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Artista transforma armas da guerra em instrumentos musicais

Um artista sérvio, chamado Nikola Macura, está transformando armas usadas na guerra em instrumentos musicais. O escultor defende que “o feio” pode se tornar “algo belo”.

“As armas estão ao nosso redor. Estamos tão cercados pela destruição que não percebemos mais ”, disse Nikola, que também trabalha como professor assistente na Novi Sad Academy of Arts, na Sérvia.

Ele cresceu na época em que a Sérvia estava no auge do conflito com a ex-Iugoslávia – Bósnia-Hezergovina, que deixou uma quantidade enorme de ferro-velho no país: desde capacetes e rifles até outros objetos destruídos.

Determinado a transformá-los em instrumentos adoráveis, Nikola visitou diferentes ferros-velhos militares para coletar armas antigas.

Ele testou cada pedaço de metal para ver que tipo de som era capaz de fazer, e então levou os que tinham potencial para transformação. E a mágica aconteceu.

Instrumentos de armas

Ele transformou um velho balde do exército e uma bazuca em um violoncelo funcional e criou um violino com um kit de primeiros socorros.

Sua iniciativa foi chamada de “From Noise to Sound” – do barulho ao som – está ganhando força.

Orquestra de veteranos

Agora, Nikola quer criar uma orquestra inteira com equipamentos antigo e, em seguida, ter veteranos de guerra tocando os instrumentos.

A orquestra viajaria por toda a região como um símbolo visual de transformar destruição em criação.

“Meu objetivo é oferecer às pessoas que participaram da guerra uma chance de utilizar as armas que usaram para travar uma luta para criar música”, acrescentou Nikola.

O brilhante escultor está trabalhando atualmente com um tanque do exército, na esperança de transformá-lo em um enorme tambor que será tocado por cinco percussionistas.

Ele planeja pintar o tanque de rosa brilhante apenas por diversão!

Fotos: Instagram

Fotos: Instagram

Veja Nikola tocando um destes instrumentos: https://www.instagram.com/fromnoisetosound/?utm_source=ig_embed&ig_rid=4503741b-49f9-4ee9-a5f7-364ecb365b46

 

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Gravações Cover: Vantagens e Desvantagens

O mercado musical basicamente se divide em cantores de músicas Covers e os cantores de músicas autorais. Apesar desta separação, nada impede que os artistas trabalhem essas duas vertentes simultaneamente, contudo, como em qualquer ramo de atividade, existem vantagens e desvantagens, que podem fazer o músico ser rapidamente conhecido ou podem levá-lo a desistir do projeto musical próprio. A seguir, entenda quais são essas diferenças.

Características de uma Gravação Cover

Muitos artistas que têm músicas próprias e procuram entrar profissionalmente no mercado musical, seja formando uma banda para tocar na noite, seja em uma carreira solo, geralmente optam pelo caminho do Cover para abrir espaço no mercado, e desta forma, mostrar sua arte autoral.

Mas existe uma grande diferença entre executar Covers em um bar e lançar um CD com composições de outros músicos. O desconhecimento sobre as regras de direitos autorais pode levar o artista a ter sérios problemas com a justiça, independente se a obra foi utilizada em uma simples execução ou mesmo na reprodução.

Normalmente, para apresentações em bares, casas de show ou locais abertos, os comerciantes, promotores de eventos, ou quem for o responsável pela apresentação, deverá fazer uma declaração ao ECAD contendo repertório de obras musicais a serem executadas, para a devida arrecadação dos direitos autorais. Já para a gravação e comercialização de músicas Cover, é primordial solicitar a autorização dos detentores de direitos da obra. Esta cobrança e concessão de direitos são feitas pelas editoras musicais e gravadoras, e não pelo ECAD.

Embora os trabalhos Cover exijam pagamento de direitos autorais, ainda assim, apresentam-se como uma boa alternativa. A seguir, as principais vantagens e desvantagens desta modalidade.

Vantagens de uma Gravação Cover

Desde muito tempo as gravações cover vêm sendo um facilitador para a entrada de artistas no mercado musical. Pelo fato da grande maioria do público frequentador de bares e casas de shows estar mais propenso e aberto a aceitar músicas já conhecidas e interagir mais facilmente durante as apresentações, o trabalho cover facilita também a introdução de músicas autorais no meio do repertório que será apresentado, podendo torná-las conhecidas.

Além disso, ajuda os músicos aprimorarem suas técnicas e isso, no meio cover, é fundamental para ter destaque, pois, quanto mais fiel ao original, maior a possibilidade de tocar em mais lugares. E vale tanto para quem está começando quanto aqueles que já estão no mercado, pois a regravação de um sucesso pode ser a chave para impulsionar uma carreira, ou mesmo, representar um retorno triunfal nos palcos.

Desvantagens de uma Gravação Cover

Observando pelo ângulo financeiro, uma das grandes desvantagens em se gravar um CD/DVD com músicas cover,= é o custo que se tem com os direitos que são pagos às editoras ou escritórios responsáveis pela administração de carreiras artísticas, pois, além do artista que vai produzir um cover depender da autorização do responsável pela obra e liberação dos direitos de gravação, alguns escritórios cobram valores absurdos e ainda limitam a quantidade de cópias que poderão ser geradas do fonograma.

Diante disso, cabe aos músicos decidirem qual estratégia utilizar na hora de gravar um CD, se Cover, arcando com os direitos autorais mas ganhando maior aceitabilidade do público, ou autoral, com a ousadia de quem garante a qualidade do seu trabalho e confia na receptividade do público.

 

FONTE: https://www.discmidia.com.br/mercado-musical/gravaes-cover-vantagens-e-desvantagens/

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Cura pelo som é uma técnica promissora no combate a doenças e disfunções

Profissionais de saúde são, merecidamente, as novas celebridades, e as descobertas científicas são as novas atrações. Teorias e fórmulas alternativas desenvolvidas para curar, tratar ou diminuir o sofrimento causado por doenças estão, com uma frequência cada vez maior, ganhando espaço em conversas e nas redes sociais.

A coluna Claudia Meireles noticiou por aqui algumas novidades, como um método criado por um médico brasileiro para reverter doenças degenerativas; ou a respiração Box Breathing, idealizada pelo ex-comandante da marinha americana Mark Divine, capaz de promover o aumento da qualidade de vida. Destacamos, também, as dicas valiosas do neurocientista Andrew Huberman para “hackear” o cérebro e dormir bem.

Mas uma abordagem terapêutica para lá de diferenciada chamou atenção: o Sound Healing ou Sound Therapy, ferramenta de cura e autoconhecimento por meio do som. A prática já possui seu espaço na ciência e avançou demasiadamente, chegando a fazer parte, inclusive, dos tratamentos hospitalares junto à medicina tradicional.

Os sons ou frequências são consideradas sagrados há muito tempo. Seu uso é tão antigo quanto a própria existência humana. Atualmente, trata-se de um importante objeto de estudo na medicina.

O princípio básico da cura pelo som vem através da ressonância, a frequência vibratória de um objeto. Segundo a teoria, o universo inteiro – o que inclui os seres humanos – está em um estado de vibração, e cada parte do corpo têm uma frequência vibratória saudável.

Sound Healing ou Sound Therapy, ferramenta de cura e autoconhecimento através do som

Portanto, nos tornamos doentes a partir do momento em que não estamos ressoando com alguma parte de nós mesmos ou do que acontece nosso redor. Ou seja, uma frequência que vibra sem harmonia pode gerar algum tipo de enfermidade.

Na prática, esse tipo de terapia é executada em sessões que podem ser realizadas usando a voz ou com o certas ferramentas, como diapasões, tigelas tibetanas de canto, tigelas de cristal quartzo, monocórdios, tambor nativo, flauta nativa, chocalhos, entre outros. Assim como a massagem, que proporciona cura pelo toque, a terapia por som é uma forma de terapia sensorial.

O método não é tão limitado como se imagina. Nos Estados Unidos, por exemplo, a forma mais comum de se submeter à cura pelo som é a musicoterapia, que usa sons guiados por especialistas para ativar a memória e aliviar o estresse.

Já as batidas binaurais, outro segmento, consistem em tocar dois tons separados em cada ouvido, que são percebidos como um único tom quase eufórico pelo cérebro.

Apesar dos variados ramos, o Sound Healing busca, em síntese, harmonizar o corpo, proporcionando bem-estar, acalmando, energizando e fortalecendo o organismo.

A técnica é uma tendência crescente, principalmente nas cidades de Nova York e Los Angeles, que já possuem estúdios específicos para esse fim. No YouTube, são inúmeros os vídeos que oferecem a experiência.

O som ou a música são instrumentos de cura práticos, baratos e não invasivos, o que acaba se tornando facilmente aceito pelas pessoas. No método Banho de Som, por exemplo, o indivíduo conta com tigelas colocadas no corpo ou ao redor da cabeça para iniciar um mergulho auditivo profundo e de corpo inteiro.

Apesar dos variados ramos, o Sound Healing busca harmonizar o corpo, proporcionando bem-estar

Cada ouvinte possui um objetivo. A tipologia da terapia de som varia de acordo com as necessidades e da forma que ele recebe o estímulo. Há sessões agregam ioga ou tai chi ao método. A durabilidade varia de 20 minutos a duas horas.

Alguns estudos analisam a eficácia do Sound Therapy. Pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que a meditação por tigelas tibetanas diminuiu o estresse e a raiva. Outro resultado científico mostrou que a estimulação sonora de baixa frequência aumentou significantemente a quantidade de tempo em que pacientes com fibromialgia podiam sentar e ficar em pé sem dor. Na Alemanha, também perceberam que as batidas binaurais podem reduzir a ansiedade.

Confira alguns benefícios que a terapia pelo som pode trazer:

  • Relaxamento profundo, com cura de dores de cunho emocional;
  • Libertação do medo, da tristeza, da solidão e da depressão;
  • Limpeza de emoções indesejadas;
  • Afastamento de doenças físicas, problemas musculares e de mobilidade;
  • Agilidade na recuperação pós-operatória.

Há, ainda, a sonopuntura, que consiste na aplicação de diapasões em vez de agulhas em pontos do corpo.

A metodologia mais acessível para a prática de terapia com som de taças tibetanas ou batidas binaurais é a internet, via redes sociais ou no YouTube e SoundCloud. A professora e terapeuta Sara Auster costuma postar com frequência conteúdos sobre a temática em seu perfil no Instagram.

Em Brasília, a musicoterapia é uma técnica valorizada no Hospital da Criança de Brasília (HCB), fazendo parte dos protocolos de tratamento dos pequenos que lutam por uma vida melhor.

Existem, ainda, a Clínica de Musicoterapia Délia Matos e o espaço de Pedro Bicaco.

 

FONTE: https://www.metropoles.com/colunas/claudia-meireles/cura-pelo-som-e-uma-tecnica-promissora-no-combate-a-doencas-e-disfuncoes

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Clássicos da MPB completam 50 anos em 2022

Em 1972, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Milton Nascimento, Novos Baianos e Paulinho da Viola lançaram LPs (long plays) que mais tarde seriam considerados clássicos da música popular brasileira. Dos 6 álbuns, 3 estão no top 10 do ranking “Os 100 maiores discos da música brasileira”, publicado pela versão nacional da revista Rolling Stone (RS) em outubro de 2007.

Por ocasião dos aniversários de 50 anos dessas obras, foram entrevistados pesquisadores e jornalistas especializados no assunto.

 

OS 6 CLÁSSICOS QUE COMPLETAM 50 ANOS

Eis os LPs de 1972 que estão entre os 100 maiores álbuns da música brasileira, na ordem em que aparecem no ranking.

ELIS

Como 6 dos 18 álbuns de estúdio de Elis Regina (1945-1982) chamam-se “Elis”, o LP lançado em maio de 1972 ficou conhecido como “o disco da cadeira”. Foi gravado no mês anterior, com produção de Roberto Menescal e arranjos de César Camargo Mariano. Ocupa a 98ª posição da lista –“Falso brilhante” (1976), na 36ª colocação, é o outro álbum de Elis presente no ranking.

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Capa do LP “Elis”, de Elis Regina

O 1º registro em LP de “Águas de Março” (Tom Jobim) está aqui. A canção foi apresentada ao público durante show realizado 1 mês antes do disco chegar nas lojas. A novidade criou expectativa: “Assim, sem mais nem menos, estamos aguardando o lançamento do novo disco de Elis Regina, onde ela canta ‘Águas de Março’ de Antônio Carlos Jobim”, escreveu Walter Silva para a Folha de S. Paulo na época. Algumas semanas antes, o mesmo jornal havia publicado nota sobre a “linda e recente” composição de Tom.

O resultado em estúdio agradou os jornalistas que escreviam sobre música, apesar de Silva ter mencionado um possível “problema de mixagem” na faixa. Nota publicada no O Globo diz: “Nada mais simples e lindo que ‘Águas de Março’. Elis, no disco, nos dá uma aula espetacular de divisão de compasso e domínio de respiração. É, até que provem o contrário, a música do ano”.

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Reprodução do jornal Folha de S. Paulo de 31 de maio de 1972

Em uma edição diferente, o jornal menciona outras das 12 músicas do álbum. Destaca “Boa noite, amor” (Francisco Mattoso e Zequinha de Abreu), “Vida de Bailarina” (Americo Seixas e Dorival Silva), “Olhos Abertos” (Zé Rodrix e Guarabyra), “Atrás da Porta” (Chico Buarque e Francis Hime), “Nada Será como Antes” e “Cais” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos). No último parágrafo, depois de falar sobre a potência vocal da cantora gaúcha, diz: “Essas qualidades, mais o bom repertório escolhido, fazem do novo disco uma pedida certa e indispensável”.

 

Elis” 50 anos depois

A jornalista Chris Fuscaldo foi entrevistada, que também é musicista e doutora pelo programa de Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio. Perguntamos se “Elis” continua relevante 50 anos depois do seu lançamento. Eis a resposta:

Super [relevante]. Curiosamente, esse é o momento de isolamento da Elis. Ela teve uma vida de muitos amores, altos e baixos, brigas, experimentações, viagens. Foi uma vida bem agitada, e de repente ela vai para o campo. Esse disco é a cara desse momento de isolamento que ela está vivendo. Isolamento esse que nós fomos obrigados a viver nesses últimos 2 anos. Em 2022, a gente não vai estar tão livre quanto estava em 2019”.

Em 2021, Chris Fuscaldo e o jornalista Marcelo Bortoloti publicaram o livro “Viver é melhor que sonhar”, sobre Belchior. Fuscaldo diz: “Esse disco tem ‘Mucuripe’, música do Belchior e do Fagner, que é extremamente contemplativa. Uma música que não tem nada a ver com o campo –pelo contrário, tem a ver com água, com mar. Mas se você parar para pensar, parece que ela [Elis] tá na beira do mar contemplando. Então esse era um momento muito contemplativo dela, e é uma coisa que todos nós, de alguma forma, fomos obrigados a viver”.

A DANÇA DA SOLIDÃO

Um dos poucos discos de samba presentes no ranking, não poderia ter sido lançado de outra forma: roda de samba com amigos na sede da gravadora Odeon em uma noite de 6ª feira (6.out). O próprio Paulinho distribuiu os convites, “mas quem gosta de música será recebido com chope e alegria”, dizia nota do O Globo do dia.

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Capa do LP “A Dança da Solidão”, de Paulinho da Viola

A Dança da Solidão é o 5º álbum de estúdio de Paulinho da Viola. Ocupa o 30º lugar na lista da RS, tendo a 2ª posição mais alta entre os álbuns do gênero. Atrás apenas de “Cartola”, de 1976 (8ª colocação geral).

O álbum teve produção de Milton Miranda e direção musical de maestro Gaya, que também orquestrou e regeu os arranjos. A capa é assinada por Elifas Andreato, designer e ilustrador responsável pela arte de “Nação” (Clara Nunes, 1982), “Canta Canta, Minha Gente” (Martinho da Vila, 1974), “Nervos de Aço” (Paulinho da Viola, 1973) e muitos outros.

No repertório, composições próprias (“Guardei minha viola”, “No Pagode do Vavá”, “Ironia” e “Dança da Solidão”); parcerias (“Coração imprudente” e “Orgulho”, ambas com Capinan); e de terceiros. Entre os compositores gravados, Geraldo das Neves (“Papelão”), Nelson Cavaquinho (“Duas horas da manhã”, com Ary Monteiro), Nelson Sargento (“Falso moralista”) e Cartola (“Acontece”).

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Reprodução do jornal O Globo de 6 de outubro de 1972

Crítica de “A Dança da Solidão” publicada na Folha de S. Paulo dizia: “A MPB atual está dividida em 3 correntes: a dos continuadores da bossa-nova (Milton Nascimento, Dori Caymmi), do som universal (Caetano Veloso, Gilberto Gil) e do sambão tradicional (Martinho da Vila, Candeia). Nesta última corrente, sem dúvida nenhuma o compositor mais criativo é Paulinho da Viola […]”.

Também recebeu elogios no O Globo. Heitor Quartin disse: “Como intérprete e compositor, Paulinho da Viola é Sucesso em Madureira ou Ipanema. […] O samba pode ser da pesada ou mais sofisticado. Pode ser cantando na Avenida ou na Banda de Ipanema. Mas não vai nisso nenhuma intenção de ‘fabricar o sucesso’. É que ele é isso mesmo, bom de viola, bom de notas, bom de poesia”.

A Dança da Solidão” 50 anos depois

Fernando Paiva , que é vice-presidente do Instituto Glória ao Samba, pesquisador e entusiasta do gênero. Perguntamos o que explicaria o bom desempenho de “A Dança da Solidão” no ranking, tendo em vista a presença tímida de discos de samba na lista. Eis a resposta:

É um disco com um repertório de peso, tem uma escolha de letras muito acima da média. Traz muito da simplicidade do samba: cavaquinho, pandeiro, agogô… É possível escutar a marcação do surdo… Até surpreende estar nessa lista por ser um disco de samba tradicional. Geralmente essas listas escolhem trabalhos que transformaram ou inovaram”.

EXPRESSO 2222

Gilberto Gil voltou ao Brasil em janeiro de 1972, depois de passar 3 anos exilado em Londres com Caetano Veloso. O cantor, compositor e instrumentista baiano havia lançado o LP “Gilberto Gil” no ano anterior. Ao retornar do Reino Unido, disse que o seu próximo disco seria apenas o registro da mais recente etapa do seu trabalho.

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Cara do LP “Expresso 2222”, de Gilberto Gil

Expresso 2222”, seu 6º álbum de estúdio, chegou às lojas em julho daquele ano. Em 2007, o trabalho seria eleito o 26º maior disco do país pela lista da RS. Sendo, entre os 4 trabalhos solo de Gil citados, o melhor classificado –os demais são “Refazenda” (1975), na 43ª posição; “Refavela” (1977), em 54ª; “Gilberto Gil” (1968), como 78ª.

Entre as 9 faixas de “2222” (como os jornais da época se referiam ao LP, devido a este ser o único texto verbal presente na capa), experiências (criações próprias) e amostras de suas raízes (obras de outros compositores brasileiros).

A instrumental “Pipoca Moderna” (Sebastião Bianco), “O canto da Ema” (João do Vale, Aires Viana e Alventino Cavalcanti), “Chiclete com banana” (Almira Castilho e Gordurinha) e “Sai do sereno” (Onildo Almeida) são as músicas que Gil pegou emprestadas de conterrâneos.

A maioria das composições próprias – “Back in Bahia”, “Ele e eu”, “Expresso 2222”, “O sonho acabou” e “Oriente”– foram escritas ainda na capital inglesa, arranjadas no Brasil e aprimoradas durante shows até, por fim, serem gravadas em São Paulo.

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Reprodução do jornal Folha de S. Paulo de 21 de julho de 1972

O disco teve direção de produção de Guilherme Araújo, coordenação de Roberto Menescal e direção musical do próprio Gil. Os instrumentistas Lany Gordin (guitarra), Bruce Henry (baixo), Antônio Perna (piano) e Tutty Moreno colaboraram com os arranjos. Gal Costa participou da gravação de “Sai do sereno”; a Banda de Pífanos de Caruaru, de “Pipoca moderna”.

No dia seguinte ao lançamento de “Expresso 2222”, O Globo publicou uma nota na sessão de discos. Dizia: “Dentre este grupo de baianos que de uma hora para outra tomou conta de um setor da MPB, alguns poucos realmente convencem, enquanto outros fazem onda apenas, se aproveitando do fato de já ter sido aberto o caminho na frente. Gil é disparado o melhor, o mais profundo, o mais talentoso, aquele menos preocupado com a imagem e mais ‘na do compor’, o mais simples, o mais autêntico”.

Ibanez Filho, da Folha de S. Paulo, escreveu uma longa crítica. “O disco realmente é um registro, no sentido em que é a realização final, acabada, lapidada e perfeita, das experiências musicais da última fase do trabalho de Gilberto Gil”, diz.

Depois de comentar as principais faixas do álbum, Filho escreve: “O disco é perfeito. Gostar ou não do LP torna-se assim apenas uma questão pessoal e subjetiva. Sem dúvida nenhuma, este disco, encarado como um registro pelo seu criador, já é um marco dentro da evolução da música popular brasileira”.

Expresso 2222” 50 anos depois

O jornalista Luiz Filipe Carneiro fez um vídeo dedicado ao “Expresso 2222” para o seu no canal no Youtube, Alta Fidelidade. Ele diz: “O que mais me impressiona nesse disco é a ponte que ele [Gilberto Gil] faz das suas origens para o futuro”.

Mais adiante no vídeo, Carneiro diz: “[Expresso 2222] pode representar o sonho da música universal do Gilberto Gil. Uma música tão rica que acaba agradando a quase todos. Seja o moleque roqueiro, seja o pai ou avó fã de Luiz Gonzaga ou João Gilberto, seja o tio fã de Bob Marley”.

Carneiro ainda fala sobre a importância de “Expresso 2222” na carreira do Gil: “Eu acho que esse disco representa uma espécie de farol. Acredito que tudo que ele fez depois tenha algo do ‘Expresso 2222’. Difícil imaginar o ‘Refavela’, a fase pop na década de 80 ou ‘Parabolicamará’ [de 1992] sem o ‘Expresso 2222’. Difícil imaginar os tributos a Bob Marley e Luiz Gonzaga, nos anos 2000, sem o ‘Expresso 2222’”. Assista ao vídeo (8min09s).

Escute a playlist do álbum no canal oficial do artista no YouTube:

TRANSA

Caetano Veloso é o artista com mais álbuns solo na revista. Entre os 5 discos do cantor e compositor mencionados na lista, “Transa” é o trabalho melhor posicionado. É o 10º colocado entre 100.

Sucessor de “Caetano Veloso” (também chamado por fãs e críticos de “London, London”, de 1971), foi seu 2º disco gravado durante o exílio. Seria lançado no Brasil em março, mas só chegou às lojas em maio daquele ano.

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Capa do LP “Transa”, de Caetano Veloso

Assim como o disco anterior, “Transa” foi produzido por Ralph Mace. O britânico ficou encarregado das questões técnicas da gravação. Já o cantor, compositor e violonista carioca Jards Macalé foi responsável pela “direção artística” dos arranjos –que ele, Caetano, Moacyr Albuquerque (baixo), Áureo de Souza (percussão) e Tutty Moreno (bateria) criaram. Esses músicos acompanharam Veloso nas primeiras apresentações realizadas depois de sua volta ao Brasil.

Foi em um show no Tuca (Teatro da Universidade Católica), em São Paulo, que a imprensa conheceu algumas das canções que estariam no LP. Em resenha publicada na Folha de S. Paulo, Walter Silva destacou “Triste Bahia” (releitura do poema de Gregório de Mattos), “It’s a long way” (Veloso) e “Mora na Filosofia” (Monsueto Menezes e Arnaldo Passos).

Completam o repertório do disco: “You Don’t Know Me“, “Neolithic Man“, “Nostalgia (That’s What Rock’n Roll Is All About)” e “Nine Out of Ten“. Esta última, segundo o próprio Caetano, sua melhor composição em inglês.

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Reprodução do jornal Folha de S. Paulo de 27 de maio de 1972

Se o 1º trabalho de Caetano nas Terras da Rainha ficou marcado pela saudade e a tristeza de um baiano na cinzenta capital inglesa, às vésperas de seu retorno o artista compôs como um estrangeiro que aprendeu a gostar das diferenças. “Não existe mais o ambiente cinza e frio de ‘London, London’, que foi substituído pela agitação de Porto Bello Road ou os filmes do Eletric Cinema que fazem o compositor chorar e se sentir vivo […]”, disse Ibanez Filho em resenha publicada na Folha. Referiu-se à “Nine Out of Ten”, mas o comentário continua verdadeiro se estendido para todo o álbum.

Transa” 50 anos depois

Allan de Paula Oliveira, músico, pesquisador e professor da graduação e pós-graduação em Música Popular na Unespar (Universidade Estadual do Paraná). De 2016 a 2017, Oliveira e o acadêmico João Pedro Schmidt realizaram um projeto de iniciação científica sobre o disco. “O ‘Transa’ é o trabalho onde o Caetano começa a trabalhar de uma forma que viria a marcar a carreira dele. Tá muito próximo do LP de 71 em termos de sonoridade, mas tem uma ruptura. Afirma uma sonoridade de banda e aponta para um elemento muito importante na obra do Caetano, que é um certo cosmopolitismo”, diz Oliveira.

Oliveira foi perguntado se o trabalho continua relevante 50 anos depois do seu lançamento. Eis a resposta: “Ainda é um álbum excelente. Eu acho engraçado como algumas bandas soam datadas e outras não. Você ouve coisas da década de 70 e elas têm ‘cara de década de 70’. O ‘Transa’ não tem. É um disco que poderia ser feito hoje. Claro, tem ‘um espírito’ da década de 70, mas de uma maneira tão sofisticada, tão sutil, que o álbum é perene”.

CLUBE DA ESQUINA

Em 1972, Milton Nascimento era considerado um dos principais nomes da música popular brasileira. Apenas 5 anos depois do seu álbum de estreia, “Travessia” (1967), o cantor e compositor carioca conseguiu fazer com que os grandes jornais do eixo Rio-São Paulo dessem alguma atenção para o que acontecia fora do próprio umbigo. Não só isso: com base nos acervos digitalizados dos principais veículos brasileiros, é possível dizer que os próximos passos de Bituca era um dos assuntos que mais interessavam aos jornalistas que cobriam a MPB.

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Capa do LP “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges

A expectativa pelo 5º álbum de estúdio do cantor era grande. Sabia-se que Nascimento dava uma pausa na criação para dedicar seu tempo ao projeto: um LP com canções compostas ao longo dos 2 anos em que estava morando em Minas Gerais, em parceria com artistas locais. E um show, que serviria para apresentar as músicas ao público antes do lançamento do disco.

Na contramão de tudo que era feito no setor fonográfico brasileiro, as capitais paulista e fluminense foram colocadas em 2º lugar. Em entrevista publicada pelo O Globo em 14 de janeiro de 1972, Milton contou porque preteriu os grandes centros. “Esta turma daqui de Minas é boa mesmo. Estão aí o Márcio Borges, o Toninho Horta, o Fernando Brant e o Lô [Borges] para provar o que digo. Mas em termos de mercado só existe mesmo Rio e São Paulo. Principalmente o Rio. Vamos lançar o long play aqui [em Minas Gerais] porque a turma é quase toda de Belo Horizonte. A gente já fez muita coisa juntos e agora resolvemos lançar o ‘Clube da Esquina’ no lugar de origem”, diz o cantor.

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Reprodução do jornal O Globo de 14 de janeiro de 1972

Quando chegou às lojas, uma informação até então ignorada pela imprensa ganhou destaque. “Clube da Esquina” era um LP de Milton Nascimento “com Lô Borges”. O cantor e compositor mineiro, pouco conhecido a nível nacional, assinava 8 das 21 faixas do álbum duplo. São elas: “Tudo que você podia ser”, “Um girassol da cor do seu cabelo”, “Estrelas” e “Trem de doido” (com Márcio Borges); “O trem azul” e “Nuvem cigana” (com Ronaldo Bastos); “Paisagem da janela” (com Fernando Brant) e “Clube da Esquina nº2” (com Milton e Márcio Borges). Ainda em 1972, Borges lançaria pela Odeon o seu primeiro álbum solo, “Lô Borges”.

A divisão do protagonismo foi questionada. “Muita gente, mesmo entendendo das coisas, acha que eu dei tremenda colher de chá ao Lô, ao destacá-lo em meu disco. Nada disso. Primeiro, o disco não é meu só, mas de todo mundo que aparece na capa, gente em que acredito. A ideia foi juntar essa gente num trabalho. Foi um negócio criado por Lô e por mim”, disse Milton ao O Globo de 23 de março de 1972. Essa questão, porém, nem de longe ameaçou a discussão sobre a qualidade do trabalho.

Com direção de produção de Milton Miranda, direção musical do Maestro Gaya e orquestração de Eumir Deodato e Wagner Tiso, “Clube da Esquina” foi bem-recebido pela crítica. “Dois discos compõem este excepcional lançamento da Odeon, que representa sem nenhum favor o que de melhor está sendo feito em matéria de Música Popular Brasileira no momento”, diz nota no O Globo de 26 de abril.

Clube da esquina” 50 anos depois

O jornalista Emerson Gasperin, que foi editor-chefe da extinta revista Bizz, comentou o seguinte: “O ‘Clube da Esquina’ é um disco muito importante para o contexto brasileiro porque ‘resgata’ essa alma caipira do país. É um disco rural, folk, moda de viola… E é tão brasileiro quanto um disco de samba ou de outro ritmo que tenha matriz negra”.

Kamille Viola, que além de repórter é pesquisadora e autora do livro “África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver”, disse: “‘Clube da Esquina’ é um disco clássico da MPB. Atemporal, soa bem até hoje. Reflete a época: vai dos temas mais hippies até à questão política. Todos os artistas do Clube da Esquina fizeram carreira. É um disco do meu coração, mas é um disco do coração da música brasileira“.

 

ACABOU CHORARE

Nem João Gilberto, nem Dorival Caymmi. Tampouco Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Caetano Veloso. Ou mesmo Raul Seixas. Em uma lista marcada pela grande quantidade de consagrados artistas da Bahia, o título de maior disco da música brasileira pertence a “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos.

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Capa do LP “Acabou Chorare”, dos Novos baianos

Baby do Brasil, Morais Moreira, Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes, Jorginho Gomes e Dadi Carvalho reuniram-se em Salvador. E morando na capital baiana gravaram um compacto e seu 1º álbum de estúdio, “É ferro na boneca” (1970). Mas foi vivendo em um sítio no bairro Jacarepaguá, cidade do Rio de Janeiro, que o grupo produziu o álbum em questão.

Lançado em outubro de 1972 pela Som Livre, braço fonográfico do Grupo Globo, o LP dividiu opiniões no O Globo. Nota publicada no dia 27 classificava o trabalho como “notável”. “Eis aí um conjunto que finalmente achou o seu verdadeiro caminho: ritmo e som da 1ª a última faixa –brasileiro e autêntico. Um senhor lançamento”, dizia o texto de 12 linhas.

O jornal publicou uma crítica 2 dias depois. Depois de elogiar o projeto gráfico da capa, comenta o estilo novo estilo musical apresentado pelo grupo: “[…] procuram evidentemente uma formulação diferente, um pouco afastada da concorrência de Caetano, Gil e Cia, sem chegar a radicalismos. […] Para isso, aproximam-se mais de Gil, sem esquecer o tradicional ‘Brasil Pandeiro’, de Assis Valente. Somado a ‘Besta é tu’, ‘Preta, pretinha’ e outras milongas, o que fazem é uma verdadeira salada dentro de uma embalagem de caviar”, diz o texto.

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Reprodução do jornal O Globo de 29 de outubro de 1972

Folha de S. Paulo também deu nota sobre o disco. Dizia que os artistas “entraram no samba sem perderem seu swing característico. Suas composições, que sempre foram boas, mas tinham muita influência de Caetano e Gil, amadurecem”. O texto ainda menciona uma das novas fontes de inspiração da banda. “A convivência com João Gilberto também abriu novas perspectivas para os Novos Baianos que, agora, são donos de um som exclusivamente seu”.

Acabou Chorare” 50 anos depois

Emerson Gasperin também comentou sobre o maior disco da música brasileira: “Eu acho que ‘Acabou Chorare’ é o melhor disco dos Novos Baianos e entra fácil num top 5 de todos os discos da música brasileira. Tanto pelo que ele é, quanto pelo que ele influenciou, pelas pistas que ele deu”.

O jornalista, que participou da votação para a lista da RS, explica a posição que o LP ocupa: “Se tu der ‘Acabou Chorare’ para um australiano escutar, ele vai identificar muitas coisas de um pop mundial e ao mesmo tempo ele não vai ter dúvida nenhuma que aquilo é brasileiro. Eu acho isso mágico: conseguir dialogar com um monte de culturas diferentes sem perder a tua identidade. Não é uma banda de rock brasileira que é igual uma banda de rock argentina que é igual uma banda de rock polonesa. É totalmente brasileiro e totalmente universal”.

Por fim, Gasperin foi perguntado sobre o que “Acabou Chorare” tem que os demais álbuns do grupo não têm. Eis a resposta: “Eu não acho que os Novos Baianos tiveram muitas guinadas. Os [LPs] que vieram logo depois, ‘Novos Baianos Futebol Clube’ e ‘Novos Baianos’ são discos igualmente bons, sabe? São inferiores só porque o ‘Acabou Chorare’ veio primeiro e meio que cristalizou o estilo. Ali, encontraram a voz, a autoria, a assinatura artística deles. Os discos de 73 de 74 são evoluções naturais, com momentos piores e momentos melhores. ‘Acabou Chorare’ acaba tendo essa relevância toda pelo pioneirismo dentro da discografia do grupo”.

 

DÉCADA DE CLÁSSICOS

Com 6 álbuns, 1972 é apenas o 4º ano com mais representantes no ranking da RS. Fica atrás de 1975 e 1976 –ambos com 7 lançamentos na lista. E de 1973, com 10. Porém, 1972 é o único ano com mais de 1 disco no top 10.

A década como um todo foi muito movimentada e marcante, com o surgimento e a firmação dos grandes nomes da música brasileira. E 1972 é parte dessa década”, diz Chris Fuscaldo. A jornalista e pesquisadora deu a declaração ao ser perguntada se considerava 1972 um ano “especial” para a música brasileira. Como sugere texto publicado pelo Diário Catarinense (Florianópolis) em 2012.

Uma divisão cronolófica do ranking vai ao encontro do comentário de Fuscaldo. Dos 100 discos, 51 foram lançados de 1970 a 1979. O 2º decênio com mais álbuns na lista é de 1960 a 1969, com 16 LPs.

Desde 2020, elencar os grandes discos da música brasileira que fazem 50 anos é uma matéria que pode ser repetida a cada 1º de janeiro. Entramos em uma fase de ouro da música brasileira. Em 1972 teve vários clássicos, mas em 1973 também teve vários clássicos. E em 1971 teve vários clássicos. Não acho 1972 melhor ou pior que os outros anos [da década de 70]”, diz Emerson Gasperin.

Dados da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) mostram que as vendas de discos (compacto simples, compacto duplo e long play) e fitas (K7 e K7 duplo) no Brasil cresceram 454% em 1979 ante 1968. Os números são apresentados no artigo “Transformações na indústria fonográfica brasileira nos anos 1970”, do pesquisador Gustavo Barletta Machado.

Machado relaciona esse boom às mudanças no padrão de consumo possibilitadas pelo momento político e econômico do país. A produção e o consumo de bens culturais cresceram durante a cívico-militar que durou de 1964 a 1985. Consequência do chamado “Milagre Econômico” com uma estratégia de integração nacional na qual o setor de telecomunicações foi importante. “Diferentemente do que ocorreu no período [de Getúlio] Vargas, foram os grupos privados que tiveram o papel principal no projeto de integração nacional, embora os investimentos estatais na infraestrutura necessária tenham sido volumosos”, diz o autor.

Um dos agentes privados ao quais o texto refere-se é o Grupo Globo. Ainda de acordo com a Abinee, foi em 1973 que o long play superou os formatos compacto simples e compacto duplo. O conglomerado da família Marinho teve parte nessa mudança. Com a criação da Som Livre, em 1971, a empresa carioca passou a produzir (e vender) álbuns com a trilha sonora das telenovelas da emissora –sendo sempre 1 disco com musicais nacionais e outro com canções internacionais para cada obra audiovisual.

Mas se a expansão dos Marinho para o mercado fonográfico ajuda a explicar o aumento nas vendas de LPs, sua colaboração no quesito qualitativo é menos notável. Para ilustrar essa relação, basta lembrar que apenas 2 álbuns da Som Livre aparecem na lista da RS. O já mencionado “Acabou Chorare”, e “Fruto Proibido” (1975), de Rita Lee.

Kamille Viola considera 5 fatores relevantes para explicar a qualidade da produção musical brasileira na década de 1970. São eles: a influência de João Gilberto (1931-2019) nas gerações seguintes a sua; a censura promovida pela ditadura cívico-militar; os festivais da canção, realizados de 1965 a 1972 (que eram transmitidos pela TV); o interesse das gravadoras em investir tempo e dinheiro nas produções; e a existência de meios culturais onde havia “muita troca” de experiência entre os artistas.

Todos os jornalistas e pesquisadores consultados disseram ver a ditatura como um dos ingredientes que resultaram na criação de canções e álbuns que mais tarde seriam considerados clássicos.

Allan de Paula Oliveira fala sobre a relação desse elemento com a ascensão da indústria de discos: “De 1965 a 1969, se você quisesse ver o que os compositores estavam fazendo de novo, você iria nos festivais. As gravadoras sabiam disso, então havia um interesse de que artistas participassem”, diz.

O cenário começou a mudar em 13 de dezembro de 1968. Naquele dia, o governo Costa e Silva baixou o AI-5 (Ato Institucional nº 5). Oliveira diz que a medida impactou as competições musicais: “Os festivais de 1969, 1970 e 1971 foram esvaziando. E a edição de 1972, organizado pela Globo, foi um fiasco. As gravadoras percebem que não valia expor os seus artistas ali. E os próprios artistas também se recusavam a participar. Isso explica porque começaram a investir em álbuns”.

Perguntamos a Emerson Gasperin se ter mais investimentos na produção de discos foi determinante para a indústria alcançar os resultados que teve nos anos de 1970. Para responder, o jornalista menciona o livro “Do vinil ao download”, de André Midani:

Ele [Midani] fala que a indústria da música, nos anos 60 e 70, era a indústria da felicidade. O mainstream era mais sofisticado e as pessoas que trabalhavam com música efetivamente gostavam de música. Do office boy ao presidente da gravadora. Sempre foi um negócio, mas parece que existia um pudor maior de entregar um produto melhor para o consumidor”, diz.

Ainda recorrendo à obra de Midani, Gasperin refere-se a outras características do setor que podem ter colaborado com a “excelência artística” da época. “As gravadoras tinham uma mentalidade de investir na carreira do artista, não no ‘one shot’. Em paralelo, mantinham seus estúdios, suas bandas. Era todo um contexto que favorecia o surgimento espontâneo de obras-primas. E se não fosse espontâneo, dava condições para que o artista eventualmente viesse a compor uma obra-prima nos anos seguintes”.

LISTA DE AUSÊNCIAS

O ranking de 100 maiores discos da música brasileira da revista Rolling Stone (RS) foi elaborado a partir de indicações de 60 jornalistas, produtores e pesquisadores convidados pela revista. Cada especialista indicou 20 álbuns, sem ordem de preferência. Segundo a publicação, “os critérios analisados incluíram valor artístico intrínseco e importância histórica”.

A lista traz “Araçá Azul” (1973), álbum experimental de Caetano Veloso que foi um fracasso de público –as pessoas que compraram o disco na época voltavam nas lojas para devolver o produto. Mas não menciona nenhum LP dos cantores considerados “cafonas” pela crítica –artistas que mais venderam discos na década de 1970.

Na visão de uma certa elite brasileira, músicas românticas com apelo popular não têm valor”, diz o historiador Paulo Cesar de Araújo. Araújo é autor do livro “Eu não sou cachorro, não: música popular cafona e ditadura militar”, publicado pela editora Record em 2002.

O escritor diz que a visão dominante da música brasileira valoriza os artistas que misturam modernidade com tradição. Um bom exemplo dessa mistura de velho e novo são os trabalhos de Gilberto Gil e Caetano Veloso, principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Esse pensamento “também está presente na Semana de Arte Moderna. É algo da elite cultural que se materializou na música”, diz Araújo.

Os grandes nomes da MPB não são os artistas que mais vendem. Sempre existiu esse abismo entre o sucesso comercial e o que a crítica considera relevante. Existe um desconhecimento da música que a classe média não consome“, fala Kamille Viola.

QUESTÃO DE GOSTO

Considerando apenas álbuns solos, Caetano Veloso (5), Gilberto Gil (4), Jorge Ben (4), Roberto Carlos (4), Tim Maia (4), Os Mutantes (4), Gal Costa (3), Tom Jobim (3) e João Gilberto (3) formam um grupo de 9 artistas que respondem por mais de 1/3 dos 100 grandes discos listados.

Outros 15 artistas têm 2 discos no ranking. Uma delas é Elis Regina, com “Elis” (1972) e “Falso Brilhante” (1976). Ocupam a 98ª e a 36ª colocação, respectivamente. A jornalista Chris Fuscaldo, que participou da votação dessa lista, diz que evita indicar 2 álbuns de um mesmo artista em projetos como esse.

Sobre a classificação dos LPs de Elis Regina, Fuscaldo fala que se sente responsável pela ordem em que os trabalhos aparecem. Ela considera o disco de 1972 “mais primoroso” que o trabalho de 1976. No entanto, indicou este por questões pessoais: “O 1º álbum da Elis que eu conheci foi ‘Falso Brilhante’, então o ‘preferir’ tem toda uma questão afetiva”. Diz ainda que “essa lista é uma colocação de gosto de x pessoas que são convidadas a escolher”.

O jornalista Emerson Gasperin também colaborou com o ranking da RS. Disse que é preciso fazer ressalvas quando o assunto são seleções desse tipo. “Listas sempre vão despertar uma espécie de polêmica porque elas são voláteis. O resultado depende da época em que elas foram feitas, do contexto do mercado, do perfil dos votantes e do próprio perfil de quem organiza a lista, que também vai mudando ao longo do tempo”, diz.

COMERCIAL DE MENOS

Se não há limite para a quantidade de discos lançados por artistas consagrados pela crítica, é inevitável que o resultado tenha pouca diversidade. E a música “cafona” não é o único segmento prejudicado.

A falta de aceitação dos artistas românticos entre os críticos ajuda a entender, em parte, a ausência dos cantores bregas no ranking da RS. Só que não explica a presença tímida do samba no compilado.

O gênero que é símbolo do Brasil tem 8 representantes na lista. Mesmo sendo poucos trabalhos, há certa concentração em nomes que romperam as barreiras que restringem o gênero: Cartola, com seus 2 discos autointitulados (1974 e 1976); e Paulinho da Viola, com “Nervos de Aço” (1973) e “A Dança da Solidão” (1972).

Fernando Paiva, vice-presidente do IGS (Instituto Glória ao Samba), diz que Paulinho é “uma agulha no palheiro”. “Foi uma das poucas pessoas que conseguiram se sobressair fazendo samba tradicional. E fez isso de forma honesta. Você não acha gente da geração dele nessas listas”, diz.

Paiva fala que a crítica musical brasileira “negligenciou” o samba porque o gênero perdeu sua relevância comercial. Os poucos sambistas mencionados são lembrados porque “saíram por grandes gravadoras” ou porque fizeram sucesso tocando no rádio ou na TV. No geral, diz, a discografia do samba é pouco conhecida por aqueles que escrevem sobre o assunto na grande imprensa.

Para Paiva, o fato de muitos sambas terem sido gravados em discos de 78 rotações explica parte desse desconhecimento. Além disso, o recorte das listas em álbuns deixa de fora muito do que foi produzido nos primeiros anos da indústria fonográfica brasileira.

Essa observação vai ao encontro de um comentário de Paulo Cesar de Araújo sobre a ausência da música cafona no ranking da RS. O historiador diz que os cantores brega demoraram para migrar para o long play por conta do valor final do produto: como faziam um tipo de música que era consumido por pessoas com pouco poder aquisitivo, a produção era voltada para discos compactos.

Mais caros, os LPs eram restritos aos artistas da MPB –que apesar de ter “popular” no nome, era (e é) consumida, sobretudo, pelas classes média e alta. A própria ideia dos álbuns musicais como documentos com o mesmo valor dos livros só ganhou força na década de 1970, diz Araújo.

MINORIAS SÃO… MINORIA

Depois que intelectuais dos estudos de gênero e negritude desenvolveram e popularizaram conceitos que ajudam na identificação de preconceitos, analisar a carreira de artistas mulheres e negros mostra que as discriminações existem desde muito antes das discussões sobre elas ganharem força.

Depois de publicar seu livro sobre Jorge Ben, Kamille Viola começou a trabalhar em uma publicação sobre o sambista Martinho da Vila. Mesmo artistas que tiveram sucesso de crítica ou público, como Ben e Martinho, foram afetados de alguma forma.

O racismo e o machismo na estrutura brasileira fez artistas negros e mulheres serem menosprezados. Tanto a questão de raça quanto a de gênero tiveram e têm impacto na carreira dos músicos. Mesmo no caso do Jorge Ben. Quando chamam ele de ‘força da natureza’, estão reforçando o estereótipo do ‘negro mágico’ (expressão criada por Spike Lee para falar de personagens negros que têm poderes especiais, como uma dádiva) e menosprezando a construção por trás da intelectualidade negra“, diz Viola.

A pesquisadora atribui a presença tímida do samba na lista da RS a um “pensamento eurocêntrico” que influenciou o jornalismo brasileiro. Cita o maestro Letieres Leite ao dizer que a matriz africana é a raiz de toda a música popular da Américas, e fala que “a imprensa fez parte desse processo de apagamento” dessa origem.

Também falta representação de gênero no ranking. Considerando apenas álbuns solo, 8 mulheres conquistaram 12 lugares. São elas: Angela Ro Ro, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Gal Costa, Maria Bethânia, Marisa Monte, Elis Regina e Rita Lee.

Chris Fuscaldo fez as pesquisas, entrevistas e escreveu os roteiros do programa “Mulheres do Brasil”, sobre as cantoras e compositoras do país. O programa foi exibido pelo Canal BIS, em 2014. Fuscaldo também trabalhou esse tema em sua tese de doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade na PUC-Rio.

Em “Cantautoras: Um ensaio sobre sete mulheres e sua importância na música popular brasileira“, a pesquisadora “reconstrói criticamente” a história de Anastácia, Martinha, Joyce Moreno, Leci Brandão, Sandra de Sá, Roberta Miranda e Margareth Menezes. O trabalho está disponível para leitura e download no repositório da instituição.

Fuscaldo comentou as ausências da lista publicada pela RS em 2007. “A gente tem um problema de representação feminina até hoje. É um problema que existe desde sempre. A mulher acaba sendo colocada num papel de musa. Em geral, é muito mais aquele papel de destaque da beleza, do que de fato ela tem a dizer“.

Fuscaldo cita dados do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) sobre a distribuição de direitos autorais no Brasil para mostrar que a disparidade entre os gêneros não se restringe à lista. “Em 2020, as mulheres representaram 7,6% dos arrecadadores de direitos autorais no Brasil, enquanto os homens eram 82,4%. As mulheres arrecadaram 91,72% a menos que os homens. E eram só 5 na lista de maiores arrecadadores, contra 93 homens. A não chega a 100 porque algumas pessoas não declaram gênero“, diz.

Para sua tese, Fuscaldo solicitou ao Ecad os dados referentes apenas a cantores e cantoras que também compõem. “Eu descobri que não mudou quase nada: elas são 7,39% dos cantores compositores, enquanto os homens são 82,61%, e arrecadaram 91,61% a menos que os homens. E continuaram sendo só 5 na lista dos maiores arrecadadores“.

“Eu quis trazer esses dados para mostrar que as mulheres sempre foram muito sub-representadas nesse mercado que é extremamente machista. E para mostrar que cantoras como Elis Regina e Maria Bethânia são tão guerreiras quanto Rita Lee e as compositoras. Só que as compositoras sofreram um pouco mais, porque a cantora sempre conquistou mais admiração, tendo um lugar reservado para elas na música brasileira”, diz.

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Música é aliada em tratamentos de saúde e bem-estar

Musicoterapia é cada vez mais usada na reabilitação ou prevenção de saúde e melhoria da qualidade de vida

A musicoterapia é uma prática que alia a música no tratamento, reabilitação ou prevenção de saúde e melhoria da qualidade de vida. A atividade reúne arte e saúde e promove o bem-estar do paciente, desenvolvendo a comunicação, a expressão e também o aprendizado. Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia, “a musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e restabelecer as funções do indivíduo para que ele/ela possa alcançar uma melhor integração intra e interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida”.

Na cidade de Caarapó, o músico Alan Almeida e a sua esposa, a psicóloga Geysianne Marquezolo, fazem trabalho de musicoterapia na ‘Clínica Superar’, que realiza reabilitação neuro funcional de pacientes. “Nós apostamos muito na musicalização do ser humano. Nós acreditamos que, desde a primeira infância, do primeiro ano de idade, a criança já deve ser musicalizada. No vigésimo mês de gestação o feto já começa a receber estímulos musicais. Então, a partir daí já pode se começar um trabalho de musicalização com aquele ser”, afirma Alan.

O profissional explica que no trabalho da musicoterapia, a música é utilizada com fins terapêuticos, como a reabilitação neuro funcional. “Nós trabalhamos o bem-estar e também todas as questões para as crianças que têm uma especialidade. Cada uma tem uma questão específica. Por exemplo, o aluno que é cadeirante, nós vamos trabalhar uma questão mais voltada para o ouvir para os sentidos musicais”, diz.

Segundo o músico, a musicoterapia é voltada para qualquer idade, desde crianças com deficiências ou crianças sem nenhuma comorbidade e também idosos. “Já tive um trabalho bacana, durante três ou quatro anos, com idosos na cidade de Dourados”, lembra. “Na musicoterapia nós vamos trabalhar diretamente com a debilidade ou questão que o paciente vai trazer para gente. Pode ser atraso na fala, questões motoras, questões psicológicas, síndrome de Down. Nós vamos trabalhar a música a partir da vivência daquela criança, daquele paciente, com o mundo através da música”, analisa ele sobre o trabalho musical para saúde e melhoria da qualidade de vida.

A prática é multidisciplinar, tendo acompanhamento de profissionais de áreas específicas que atendam as demandas do paciente. “A música por si só é uma terapia. Mas quando nós temos uma demanda, um paciente com microcefalia, por exemplo, nós vamos trabalhar o desenvolvimento com ele. Se ele não anda, com um fisioterapeuta e outros profissionais, nós vamos sempre tocar um repertório e trazer músicas que vão de acordo com aquela especificidade. Se, por exemplo, eu tenho um aluno com atraso na fala, então nós vamos tocar músicas, vamos trazer atividades musicais que desenvolvam a fala daquela criança”, esclarece Almeida.

A esposa de Alan, Geysianne Marquezolo, é psicóloga e também musicista. Ela explica que “a psicologia percebe a musicoterapia como uma ferramenta adicional no trabalho do tratamento das emoções e gerenciamento na qualidade de vida. Tais benefícios se observam por meio do despertar da consciência musical, visto que estamos inseridos em uma espécie de ‘paisagem sonora’.”

“Posto a isso, tal ferramenta possibilita o indivíduo desenvolver sua memória afetiva, e memória lógica (conforme as lembranças e sensações evocadas pelos estímulos sonoros); desenvolvimento da sociabilidade além de promover uma melhor atenção e percepção do ambiente”, pontua a psicóloga, que também é professora de piano, teclado e clarinete. “A psicologia percebe também na musicoterapia a possibilidade de um trabalho integral de alívio da dor, manejo da depressão e ansiedade, pois há técnicas na musicoterapia que possibilitam esse trabalho”, completa a musicoterapeuta.

Educação musical infantil
O casal tem uma escola de música em Caarapó. O ‘Soneto Espaço de Música’ está em atividade desde 2019 sendo voltada para todas as idades. As aulas de educação musical infantil se destacam. Alan contou ao O PROGRESSO que eles fazem trabalho de musicalização para bebês a partir de 1 ano. O trabalho de educação musical também é feito com projetos sociais.

Hoje, a escola de música conta com 75 alunos, oferecendo aulas cursos de violão, teclado, piano, guitarra e contrabaixo. Desde cursos básicos até mesmo cursos preparatórios para quem quer ingressar no mundo acadêmico, como vestibular de música ou concurso, com aulas de teoria musical, harmonia e harmonização. “A nossa escola se destaca pela metodologia, pela forma de ensino. Hoje, nós priorizamos nossos alunos, com aulas voltadas para a prática musical. Além de o aluno aprender a tocar o instrumento, ele entende a sua função na questão teórica também”, diz Almeida.

“Nossos alunos estudam por módulos, iniciante, intermediário e avançado. Então, quanto mais cedo a criança for inserida ao universo musical, mais nós vamos conseguir trabalhar e desenvolver algumas áreas. Na musicalização infantil, a criança tem contato com o desenvolvimento, da fala, do andar, de lateralidade, psicomotricidade, enfim, várias questões fisiológicas, inclusive, são desenvolvidas numa aula para iniciação musical”, conclui.

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Quando a música é usada para promover bem-estar e saúde mental

Os benefícios da música na saúde são comprovados cientificamente. Saiba como usá-los a seu favor

São inúmeras as evidências científicas que relacionam o bem-estar e a saúde emocional à saúde física. Dentro desse conceito, a música e todas as formas em que ela influencia positivamente ajudam a manter o bem-estar e a saúde do indivíduo. Mas os sons e as notas como tratamento vão muito além das sensações prazerosas que canções que nos agradam podem trazer. A musicoterapia, como o nome sugere, é uma maneira de tratar pacientes por meio da música.

Segundo a World Federation of Music Therapy (WFMT) — ou Federação Mundial de Musicoterapia, em livre tradução —, a modalidade consiste na utilização da música e seus elementos, como ritmo, som, melodia e harmonia, com objetivos terapêuticos, para suprir necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.

Mas como funciona? O nome e o fácil acesso à música podem transmitir a ideia equivocada de que a terapia consiste apenas em ouvir uma faixa ou cantá-la. A musicoterapeuta, violoncelista, educadora musical e presidente da Associação de Musicoterapia do DF, Ângela Fajardo, explica que a música usada como terapia é diferente da composição como performance artística. “São finalidades diferentes. Por mais que você se sinta bem em um concerto ou um show e seja beneficiado por aquela sonoridade, não é algo direcionado ou trabalhado diretamente por você, como é na terapia”, explica.

Em uma sessão de musicoterapia, os elementos sonoros são usados de acordo com o objetivo terapêutico destinado a um paciente ou grupo, e ela pode ser ativa ou passiva, a depender das necessidades e capacidades individuais. A musicoterapeuta Sarah Costa explica que é feita uma avaliação inicial, na qual é identificada a demanda do paciente, sendo ela de reabilitação ou de desenvolvimento. A partir daí, é criado um plano musicoterapêutico.

Na musicoterapia ativa, o paciente é convidado a cantar, vocalizar sons e manusear instrumentos musicais de forma livre ou de acordo com a orientação do terapeuta, de acordo com o problema ou dificuldade a serem tratados.

Existem diversas formas de abordagem. Quando o paciente precisa trabalhar habilidades de comunicação, por exemplo, ele pode ser incentivado a explorar os sons que é capaz de produzir. Já no caso de um paciente tratando a psicomotricidade, ele é estimulado a tocar e explorar os instrumentos.

Por meio dessas expressões, o terapeuta consegue atingir conteúdos internos daquele paciente e trabalhar com as técnicas mais convenientes. Sejam elas guiadas, sejam exploradas livremente por parte do paciente.

Entre as técnicas, Ângela menciona a improvisação musical, que é trabalhar uma composição instantânea com o paciente, estimulando a mencionar os assuntos e temas que o levaram à terapia. A improvisação pode usar palavras e melodias ou somente o ritmo dos instrumentos escolhidos. “Nesse diálogo, forma-se um vínculo sonoro e uma comunicação entre paciente e terapeuta. Até mesmo o instrumento escolhido pode dizer muita coisa sobre a personalidade e o que traz a pessoa para aquele teste terapêutico”, acrescenta.

Musicoterapia passiva

No caso de pacientes acamados e que sentem muita dor, a musicoterapia receptiva também é uma alternativa. Por meio da escuta e da vibroacústica, o paciente recebe a estimulação sonora. O estímulo da vibração cria um campo sonoro de relaxamento que alivia dores musculares, fadiga, náuseas e até mesmo os efeitos de uma sessão de quimioterapia. O método também costuma ser muito usado como um cuidado paliativo, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

A vibroacústica auxilia na organização celular, promovendo uma espécie de equalização do corpo, auxiliando no ritmo dos batimentos cardíacos e melhorando a pressão arterial. O uso das frequências do som de taças tibetanas também é um método valioso na musicoterapia. Cada frequência equivale a uma região do corpo e, a depender do que precisa ser tratado, é feito o estímulo de som.

Sarah acrescenta que a musicoterapia promove o ganho de novas habilidades. “A neurociência tem mostrado que a exposição à música afeta o funcionamento do cérebro, o ajudando a se desenvolver e ativar determinadas regiões.”

Principais vantagens da musicoterapia

Ajuda no desenvolvimento do foco, atenção e criatividade.
Ajuda a aliviar sintomas de ansiedade e depressão.
Desenvolve habilidades pessoaise autoestima.
Diminui processos de insônia.
Atua na reabilitação motora, na motricidade fina e ampla.
Promove movimentação das articulações e diminuiçãode dores crônicas.

Musicoterapia on-line

No Hospital da Criança de Brasília, onde Ângela Fajardo atua, existem três linhas de cuidado, a clínica, a onco-hemato e a cirúrgica. Em cada uma delas, a musicoterapia pode ser aplicada de uma forma diferente. Com a pandemia e a necessidade de isolamento social, buscaram-se alternativas para que os pacientes não ficassem sem a terapia.
A equipe dividiu as crianças em perfis semelhantes e formou dois grupos on-line, que acabaram se unindo depois. Mesmo após o retorno das sessões presenciais, muitas crianças e famílias optaram por continuar no grupo on-line. “Foi muito positivo e eu me surpreendi. Acredito que essa interação entre eles foi mais uma vantagem. Vimos crianças que não interagiam tanto no presencial começarem a ter relação com os colegas”, observou Ângela.
O projeto também permitiu a implementação de uma oficina de instrumentos musicais com material reciclável de fácil acesso. Criar instrumentos com garrafas pet, sementes, grãos, entre outros objetos, promoveu ainda mais estímulos para as crianças e famílias envolvidas.

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OUVIR MÚSICA TAMBÉM É UMA TERAPIA E FAZ BEM À SAÚDE!

Ouvir música anima e relaxa a nossa mente, aumentando a nossa boa disposição.  Para Platão “a música é o grande remédio da alma” e Aristóteles dizia, relativamente à música que: “as pessoas que sofrem de emoções descontroladas, após ouvirem melodias que elevam a alma ao êxtase, regressam ao seu estado normal, como se tivessem experimentado um tratamento médico”. Já no Renascimento, acreditava-se que ouvir os grandes compositores clássicos traziam benefícios ao bem-estar das pessoas. Nesta época, o médico francês, Louis Roger, escreveu um livro sobre o efeito da música no corpo humano, alertando para a necessidade de se fazerem mais pesquisas científicas sobre o tema. No entanto, é apenas no final da primeira metade do século XX que os efeitos da música na saúde começam a ser estudados mais profunda e seriamente.  No final da II Guerra Mundial os músicos eram chamados aos hospitais para ajudarem na recuperação das vítimas da guerra. Mas é a partir de 1944, que os Estados Unidos se tornam pioneiros ao abraçar a música é uma forma de terapia e se começam a formar profissionais de saúde nesta área.

O neurocientista e músico Daniel Levitin, autor do livro Uma Paixão Humana: o seu Cérebro e a Música muda, definitivamente, a conceção que a comunidade científica tinha do poder terapêutico da música. De referir, que Daniel Levitin é também músico e um dos maiores especialistas mundiais nesta questão faz alusão aos mecanismos neuroquímicos da música com efeitos em quatro áreas da vida humana: temperamento, stress, imunidade e interações sociais. As alterações decorrentes da música são sobretudo a nível hormonal e de marcadores inflamatórios que se relacionam com o stress, que alteram o sistema nervoso simpático e parassimpático. Estudos demonstram que a música pode diminuir esses marcadores, já que favorece a resistência ao stress. O funcionamento do cérebro, por si só, influencia um aumento ou uma diminuição desses marcadores.  Deste modo, está provado que ouvir música reduz a ansiedade e o stress podendo inclusivamente ajudar a prevenir a depressão, tendo, ainda, a capacidade de controlar os batimentos cardíacos, diminuindo a pressão arterial. Está provado cientificamente que a música ajuda o cérebro a libertar dopamina, um neurotransmissor estimulante do sistema nervoso e, dessa forma, pode contribuir para prevenir doenças como Parkinson, que advém da desregulação da produção de dopamina. E são várias as investigações que demonstram que a atividade musical durante o envelhecimento ajuda a manter a saúde física e mental: melhora a disposição, a memória, o sentido de orientação e a coordenação motora, em geral.

Ouvir música aumenta a resistência

Por outro lado, há evidências de que ouvir música tem potencial para aumentar a resistência e resposta do sistema imunitário face a diversas doenças. Mas poderá a música ter apenas um efeito placebo? Armando Sena refere que “não precisamos de ter um desenvolvimento consciente e maturo para o nosso cérebro ter percepções. Há percepções inconscientes no nosso cérebro que influenciam uma quantidade de coisas sem disso termos consciência. Isso está mais que provado. Mesmo um bebé reage mais a um determinado categoria de música e ritmos do que a outros”. Daniel Levitin defende ter que passar à prática: “Acredito que a música seria uma terapia muito mais natural e barata e sem os efeitos secundários que muitos medicamentos apresentam”, refere Daniel Levitin.

Agora que sabemos que ouvir música tem efeitos podem ser considerados como resultados terapêuticos e ajudar no tratamento de diversos problemas de saúde, sendo alguns deles: a diminuição do stress e ansiedade devolvendo ao indivíduo quando ouve música a serenidade e a calma; alivia dores e desconfortos, auxilia a diminuição da pressão arterial, ativa as conexões cerebrais e melhora a memória, estimula a articulação de ideias e aumenta a produtividade, tudo porque libera dopamina, neurotransmissor responsável pelo prazer.  A música pode também ser utilizada em atividades de cunho pedagógico para auxiliar na aprendizagem, na comunicação e na linguagem conduzindo o indivíduo ao autoconhecimento ao passo que resgata sentimentos, emoções e lembranças e auxilia a coordenação motora.  Todos esses benefícios da música são explicados pelo facto de, quando cantamos ou ouvimos melodias, o cérebro liberar justamente os neurotransmissores ligados ao prazer, de modo a aliviar dores e proporcionar sensação de bem-estar.

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Música ajuda a ativar as habilidades físicas e mentais e traz benefícios para o cérebro dos idosos

Quando uma pessoa toca um instrumento musical, ela aciona a coordenação motora, a atenção e a tomada de decisão, além da integração de áreas sensoriais e motoras. A música ainda ajuda a socializar, o que também é muito importante para manter o cérebro ativo. Um estudo feito com pessoas que sofrem de demência e tiveram comprometimento da fala após terem um AVC, mostrou que aquelas que praticavam musicoterapia, recuperaram a fala com mais facilidade que aquelas que não praticavam.

O cérebro cresce até a adolescência e a partir dos 25 anos seu volume começa a diminuir. O córtex vai ficando mais fino, o que significa perder a reserva cognitiva. Manter o volume do cérebro garante uma proteção contra demências, como o Alzheimer. Quanto mais tecido cerebral, maior a reserva cognitiva e mais chances do tecido se recuperar e manter suas funções. Em indivíduos com demência, como o Alzheimer, observa-se frequentemente uma atrofia do cérebro mais acentuada do que no envelhecimento normal, que costuma estar relacionada à perda cognitiva, que se reflete por exemplo, em dificuldades de atenção e memória.

Um estudo de imagem feito com 576 idosos, da cidade de São Paulo, com mais de 60 anos, mostrou que a perda de volume do cérebro, a partir dos 60 anos, é de 2,4% por década.

Estudar, fazer exercícios aeróbicos, tocar um instrumento musical, praticar ioga e outras atividades físicas podem manter o volume do cérebro e ajudar a manter as habilidades mentais e físicas. Em alguns casos, há evidências de reduzir o ritmo da atrofia cerebral, que é natural no envelhecimento.

Música estimula a atenção e a coordenação dos idosos — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Música estimula a atenção e a coordenação dos idosos — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Outro benefício dessas atividades está relacionado à eficiência cerebral, o que significa fazer o cérebro trabalhar utilizando menos áreas cerebrais (o que significa consumir menos oxigênio). É como dirigir um carro por muitos quilômetros com menos combustível no tanque. Estudos de ressonância magnética funcional trazem indícios de que pessoas que praticavam meditação ou tocam instrumentos musicais têm um cérebro mais eficiente.

O que estimula o cérebro, além da música:

  • Praticar exercícios aeróbicos;
  • Estudar;
  • Fazer ioga;
  • Meditar;
  • Surfar;
  • Fazer sudoku;
  • Fazer palavras cruzadas;
  • Tocar instrumentos musicais;

De maneira geral, qualquer atividade cognitiva e física, que é desafiadora, estimula o cérebro. Estudos indicam que pessoas que têm um alto nível de escolaridade, tem uma reserva cognitiva maior, e isso é um fator protetivo para o cérebro.

Um estudo comparou mulheres com alto grau a escolaridade e que praticavam ioga há mais de oito anos com um grupo que tinha alta escolaridade, mas não praticava ioga. O estudo mostrou que o grupo que praticava ioga tinha o cérebro mais espesso na área da atenção e da memória do que aquelas que não faziam essa atividade. Ter a espessura cerebral maior pode ajudar a manter as funções dessa região mais preservadas.

Fonte: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2019/09/18/musica-ajuda-a-ativar-as-habilidades-fisicas-e-mentais-e-traz-beneficios-para-o-cerebro-dos-idosos.ghtml

Notícias

24 descobertas da ciência sobre a música

1. Laialaiá
São Paulo – Ouvir música pode estimular a concentração, fortalece o sistema imunológico e, para alguns, é melhor do que sexo. Essas são algumas das descobertas da ciência sobre o tema, que já serviu de mote para vários estudos. A seguir, reunimos alguns deles.
2. Prazer?
3. Sexo
Você já ouviu a música Bohemian Rhapsody, do Queen? Para muitos britânicos, ouvi-la é melhor que fazer sexo. A descoberta é fruto de uma pesquisa realizada com 2 mil pessoas por psicólogos da universidade de Londres. Segundo os cientistas, certas músicas são capazes de ativar as mesmas zonas de prazer do cérebro que a comida e o sexo.
4. Remédio
Mona Lisa Chanda e Daniel Levitin são cientistas da universidade de McGill, no Canadá. Após analisarem mais de 400 estudos sobre música, eles concluíram que ela aumenta a produção de imunoglobulina A e glóbulos brancos pelo corpo, responsáveis por atacar bactérias e outros organismos invasores. Além disso, escutar música reduz os níveis de cortisol (o hormônio do estresse) e aumenta os níveis de oxitocina (o hormônio do bem-estar).
5. Genoma
Ter um ouvido bom para música pode ser algo ligado ao DNA. Pelo menos, é o que aponta um estudo realizado por pesquisadores da universidade de Helsinki. No experimento, foram analisados os genomas de 767 pessoas de 76 famílias diferentes. Essas pessoas são conhecidas pela habilidade de diferenciar características sutis de trechos musicais. No fim, os cientistas constataram a presença de certos genes no DNA de várias pessoas. Eles favoreceriam a detecção de determinados sons por essas pessoas.
6. Poesia
Música e poesia estimulam áreas parecidas do lado direito do cérebro. A constatação é de neurologistas da universidade de Exeter. Para chegar a essa conclusão, eles realizaram experimentos com 13 voluntários – que foram submetidos ao contato com essas formas de arte enquanto tinham suas atividades cerebrais monitoradas.
7. Favoritas
Ouvir sua música favorita ativa uma região do seu cérebro diferente daquela que é estimulada quando você escuta qualquer canção. A constatação é de pesquisadores da universidade da Carolina do Norte. Em experimento com 21 pessoas, eles verificaram que, em geral, ouvir músicas abre o circuito neuronal nos dois hemisférios. Porém, ouvir a música favorita desencadeia atividade no hipo campo, região do cérebro responsável pela memória e emoções vinculadas para a socialização.
8. Esforço
Realizar esforços físicos ouvindo música é menos cansativo. A descoberta é do Instituto Max Planck. Numa série de experimentos, pesquisadores monitoraram diversas variáveis do comportamento do corpo de voluntários que se exercitavam ao som de algum tipo de música. Depois, a equipe analisou os dados reunidos e constatou que os músculos dos participantes consumiam menos energia quando as pessoas se exercitavam ouvindo música do que quando faziam isso sem trilha sonora.
9. Grávidas
Num experimento realizado pelo Instituto Max Planck, mulheres que estavam grávidas e outras que não estavam foram submetidas à audição de sequências musicais com duração que variava entre 10 e 30 segundos. Enquanto isso, a pressão arterial delas era monitorada pelos cientistas. No fim, constatou-se que as grávidas eram mais sensíveis aos trechos de música executados, apresentando variações de pressão mais intensas em função de gostarem ou não do que ouviam.
10. Ritmo
Uma pesquisa online realizada por cientistas da universidade de Oxford propôs a 60 pessoas que ouvissem trechos de música – que deveriam ser avaliados de acordo com a vontade de dançar que gerassem nos participantes do levantamento. Analisando os resultados, os pesquisadores perceberam que ritmos com previsibilidade e complexidade médias tendem a fazer com que as pessoas tenham mais vontade de sacudir o esqueleto.
11. Gosto
Ao longo da vida, o gosto musical das pessoas tende a se transformar. Um estudo sobre o tema desenvolvido por pesquisadores da universidade de Cambridge. Com base em dados fornecidos por cerca de 300 mil pessoas durante um período de 10 anos, eles concluíram que, enquanto adolescentes procuram estilos mais intensos, adultos tendem a buscar sons mais sofisticados e despretensiosos. A razão para isso seriam as mudanças de objetivos pelas quais uma pessoa passa durante a vida, que influenciariam em suas preferências musicais.
12. Idosos
Ouvir música pode ser um bom remédio contra a dor e a ansiedade em idosos. A descoberta é da Karen Eells, especialista em enfermagem da universidade de Essex. Em análise de artigos sobre o tema, ela constatou que o uso da música como terapia entre pessoas com mais de 65 anos está associado a aumento da qualidade de vida e redução de dores, ansiedade e da depressão.
13. Concentração
A focus@will desenvolve músicas que estimulam a concentração de quem escuta. Segundo a empresa, como a maior parte das distrações é causada pela audição, ouvir a trilha sonora certa pode potencializar sua capacidade de focar em algo. Em condições normais, uma pessoa consegue se manter concentrada por cerca de 20 minutos. Ouvindo a música certa, a empresa afirma que esse tempo poderia se tornar até cinco vezes maior.
14. Amor
O irlandês Alexandre Passant é apaixonado por música. Em maio, ele divulgou os resultados de um experimento no qual usou algoritmos para analisar as letras das “500 melhores músicas de todos os tempos”, listadas pela revista Rolling Stone. No fim, ele descobriu, por exemplo, que a palavra “amor” e suas variações apareciam 1.057 vezes em 219 canções diferentes. Já “gostar” estava em 194 das 500 músicas.
15. Deprimente
De acordo com um estudo divulgado na publicação científica Psychology of Aesthetics Creativity, And The Arts, a música pop ficou mais deprimente nos últimos 50 anos. A constatação é fruto da análise de mais de mil canções que estiveram entre as 40 mais tocadas do ano nos EUA entre 1965 e 2009. Segundo os pesquisadores, quase dobrou nesse período o número de músicas com acordes menores (geralmente usados em melodias consideradas mais tristes).
16. Hits
Qual é a fórmula por trás de uma música de sucesso? Cientistas da universidade de Bristol foram atrás da resposta para essa pergunta. Eles criaram um modelo matemático capaz de prever um sucesso com 60% de exatidão. Para isso, eles vasculharam as listas das 40 canções mais ouvidas do ano no Reino Unido entre 1961 e 2011 com a ajuda de um computador. No estudo, os pesquisadores confirmaram a tese de que o sucesso de uma música depende da época em que ela foi lançada e das preferências culturais envolvidas.
17. Memória
Cinco pacientes com danos que afetaram a área do cérebro ligada à memória e cinco pessoas sem o problema foram submetidos a um experimento por uma dupla de médicos da universidade Macquarie, da Austrália. Nos testes, eles ouviram trechos de músicas antigas e deveriam relatar que memórias aquelas canções lhes traziam. Após a experiência, os cientistas constataram que os trechos fizeram com que a mesma quantidade de integrantes dos dois grupos se lembrasse de memórias da própria vida. Isso indicaria que a música é um estímulo que consegue trazer à tona lembranças autobiográficas para todas as pessoas.
18. Headbanging
O headbanging é um estilo de dança que consiste em fazer movimentos violentos com a cabeça. Ele é muito comum entre fãs de rock pesado. Porém, pode ser perigoso. Na revista médica The Lancet, um artigo publicado por pesquisadores da Escola Médica de Hanover abordou o caso de um homem de 50 anos. Ele desenvolveu um hematoma no cérebro por ter exagerado no headbanging durante um show da banda Motörhead. Foi preciso fazer um buraco em seu crânio para resolver o problema.
19. Animais
Cacatuas, leões-marinhos e macacos bonobos estão entre os tipos de animais capazes de acompanhar o ritmo de uma música. Na opinião de cientistas da universidade de Connecticut, essa habilidade está ligada a coordenação de circuitos cerebrais. Pai da Teoria da Evolução, Charles Darwin acreditava que todos os bichos conseguem perceber e apreciar ritmos musicais.
20. Uirapuru
Conhecido pela musicalidade do seu canto, o Uirapuru foi escolhido para um experimento por pesquisadores do Instituto Max Planck. No estudo, 91 pessoas ouviram e compararam trechos do canto do pássaro e de melodias compostas por um programa de computador que imitavam o som da ave. Segundo pesquisadores, a percepção geral entre os participantes no fim de estudo era de que os trechos cantados pelo próprio Uirapuru eram mais musicais do que aqueles produzidos pelo computador.
21. Emoções

Cientistas australianos da universidade de Western Sydney querem usar a música para arquivar emoções. Para isso, eles desenvolveram um método no qual um microfone é preso à perna de uma pessoa para gravar a atividade acústica do nervo. Enquanto essa atividade é gravada, imagens são exibidas para que a pessoa se emocione. Depois, o material registrado é transformado em música por um programa de computador. Com isso, os pesquisadores querem produzir uma música que reavive em quem a escuta a emoção da experiência que a gerou inicialmente.
22. Darwin
Um artigo publicado na revista Pnas relata um experimento realizado por cientistas do Imperial College de Londres. Eles usaram os princípios da seleção natural, criados por Darwin, para desenvolver um programa que cria músicas a partir das preferências de mais de 7 mil pessoas. Disponível no site DarwinTunes, o software combina trechos de música aprovados pelos usuários para criar novas “gerações” de canções.
23. Energia
Quando expostos às vibrações sonoras geradas por canções de rock ou música pop, painéis solares produzem até 40% a mais de energia. A descoberta é de cientistas da universidade Queen Mary, de Londres. Segundo eles, o fenômeno acontece porque esse tipo de música produz um tipo de frequência que afeta positivamente hastes de óxido de zinco presentes nesses painéis.
24. Hã?
Os cientistas da universidade de Barcelona advertem: ouvir música acima de 80 decibéis é prejudicial à saúde. Em reunião realizada na Espanha, especialistas em audiologia afirmaram que os índices de problemas de audição entre pessoas entre 10 e 35 anos vêm crescendo nos últimos anos. E a principal razão disso seria a música alta. Só na Espanha, 4% das pessoas sofrem com problemas do tipo e 80% delas são jovens.

Notícias

Ouvir música no trabalho melhora o humor, aumenta a concentração e até a produtividade

Não tire conclusões precipitadas ao ver um colega de trabalho com fones de ouvido. Pode não ser alienação ou falta de postura no ambiente corporativo. Mesmo sem saber disso, ao ouvir música enquanto realiza as tarefas que lhe são exigidas ele pode obter mais concentração e, assim, ganho de produtividade.
É o que sugere pesquisa feita por uma empresa norte-americana de streaming. O levantamento mostra que 78% dos colaboradores que ouvem música enquanto trabalham consideram-se mais eficientes nas tarefas.

Especialista em neurologia da cognição e do comportamento, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, Fabiano Moulin atesta os benefícios do hábito. Diz que a música funciona como uma “pílula de bom humor”, espécie de recompensa, que ativa no cérebro sensação semelhante à que experimentamos ao comer chocolate. “Literalmente, estimula o prazer”.

O efeito, a partir daí, ocorre em cascata: mais humor, mais atenção, mais competência e produtividade, diz o especialista, professor titular na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo o neurologista, embora promovam benefícios, as composições devem ser adequadas e compatíveis com a atividade executada – tanto em relação ao ritmo escolhido quanto à intensidade, capazes de blindar o ouvinte dos ruídos externos.

“É super importante sincronizar música e tarefa. Meditação com heavy metal provavelmente não dará certo, mas correr com uma música de alta frequência vai ajudar a combinar o ritmo das pernas com o do coração” – Fabiano Moulin, neurologista especialista em cognição e comportamento.

Barulho de fora

Não por acaso, 30% dos entrevistados no levantamento disseram que os fones de ouvido eram mais do que uma maneira confortável de escutar a própria trilha sem incomodar o colega ao lado, estratégia também para ocultar e se desvencilhar dos barulhos externos.

“Quando o som é programado e regular, neste caso, a música, torna-se um estímulo positivo. O mesmo vale para o som de um passarinho ou o barulho do ar condicionado. O contrário, por sua vez, acontece com a conversa dos outros, pela qual acabamos seduzidos. Naturalmente, focamos nela e deixamos de prestar atenção no que interessa”.

Há 20 anos

A administradora Cinthya Chrystiane Fonseca, de 38 anos, sabe bem disso. Há pelo menos 20 anos considera-se viciada em trabalhar com o radinho ligado, embora não faça questão dos fones. “Se por algum motivo ele desconecta do computador e a música para, fico desnorteada, parece que falta algo”, revela a moça, que prefere músicas “calmas”.

O cirurgião-geral Gilberto Eustáquio dos Santos também não dispensa uma trilha sonora quando está em consultório ou sala de cirurgia. Já ficou até conhecido pelo hábito entre os colegas de bloco cirúrgico. Conta, que, antigamente, quando ainda não existiam apps de streaming, revezava entre fitas K7 e o bom e velho rádio.

“O ambiente fica leve e todo mundo relaxa – do paciente, que, vem estressado de uma noite mal dormida, à equipe de enfermagem. Sem música, fica todo mundo sério e o tempo demora a passar até transcorrer toda a cirurgia”, justifica o profissional, que é fã de músicas instrumentais.

Playlist ‘perfeita’ deve ser baseada em preferências pessoais

Embora seja uma ferramenta comprovadamente eficaz para relaxar, concentrar e até melhorar a eficiência no trabalho, a música certa para cada momento não existe, é uma escolha individual. “Cada pessoa terá uma consideração sobre o que mais lhe agrada em determinado contexto”, justifica a psicóloga e musicoterapeuta Simone Presotti. Para ela, não há “farmacopeia musical”.

A profissional explica que as composições instrumentais costumam ser mais apreciadas no ambiente de trabalho por não competirem com a atenção necessária em outras tarefas. “Pensar na letra recruta atenção. A música instrumental, que só traz um eixo melódico e harmônico, não induz a compreensão, exigindo, portanto, menos recursos neurológicos”, observa, lembrando que treinos de memorização, por sua vez, devem ser feitos com músicas com letras.

Seres primordialmente auditivos, os humanos são, desde que o mundo é mundo, movidos por músicas das mais diversas naturezas. Basta lembrar dos cantos entoados pelos camponeses ou dos sons dos tambores dos navegantes nas grandes expedições. “A diferença de ‘função’ está na batida sonora, que pode estimular um movimento, colocar todos num mesmo compasso, ou simplesmente incentivar a concentração, do que trata a pesquisa”, conclui a musicoterapeuta.

Conjunto de fatores

Músico profissional há mais de 40 anos, diretor da Melody Maker Escola de Música, em Belo Horizonte, Flávio Mannuel reforça que o ideal, no local de trabalho, é que a música, além de sem letra, seja desconhecida por quem ouve, minimamente suave e sem grandes mudanças de intensidade.

“Posso pegar uma canção do AC/DC e fazer um arranjo adaptado para criar uma situação de relaxamento. Basta mudar o tipo de instrumentação – evitando guitarras e sopro, que são mais agressivos –, a velocidade da música e a intensidade e evidenciar a suavidade com violinos e flauta, cujos sons são mais doces”, afirma.

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