Repórteres do G1 contam experiências diferentes no Allianz Parque, em SP. Leia textos e ouça podcast com opiniões de artistas que já tocaram em eventos deste formato.
Do pop rock e forró ao pagode, balada romântica, MPB, infantil e reggae. Há shows em drive-in de vários estilos, espalhados por estádios e estacionamentos pelo Brasil.
O G1 mostra abaixo dois relatos diferentes, de dois repórteres que tiveram experiências igualmente diferentes. Uma recomenda o show motorizado; o outro só voltaria a um evento do tipo pelo dever da profissão.
O LADO BOM (por Marília Neves)
Frases como “não vejo sentido” e “nunca gastarei dinheiro com isso” são comuns diante de relatos e notícias de shows drive-in. Ao mesmo tempo, a curiosidade e os questionamentos a quem já esteve diante do palco, sentado no banco do carro, também é grande. Para estes que ainda não bateram o martelo do “não” e estão abertos à possibilidade do “sim”, há alguns pontos a favor.
O som é melhor do que o imaginado. Ao menos no Arena Session, espaço criado para o esquema drive-in no Allianz Parque, o som vem de duas caixas de som colocadas ao lado das janelas de cada carro (uma espécie de home theater), o que traz uma experiência bem melhor do que se fosse o som através da sintonia de uma rádio local, como acontece em alguns espaços ou em caso de chuva.
Apesar de não ser a forma mais potente de se transmitir o som do show, ainda assim é uma saída bem boa, ainda mais se comparada a algumas apresentações já realizadas no Allianz Parque Hall, espaço reservado para shows mais intimistas no estádio, onde o som decepciona.
Para seguir as recomendações e cuidados com a pandemia, a organização tem sido impecável. Contaminações decorrentes de um evento como esse seriam imperdoáveis. Com isso, sinalizações, equipe de atendimento, aferição de temperatura, produção e higienização de palco fazem toda a diferença.
Tudo isso mostra que pode valer a pena sair de casa com segurança, sem quebrar a quarentena, para tentar experimentar algo novo e que, ao que tudo indica, só vai durar até o fim da pandemia.
Esse também é um ponto que pode aumentar a lista de itens positivos. A experiência com algo diferente em um momento completamente atípico. Dentro da possibilidade que temos (falando em nome de quem não está furando a quarentena), participar de um evento experimental e sair um pouco da rotina pode ser interessante.
Ainda mais quando parte da rotina para entretenimento era acompanhar lives musicais, que foi até uma fase importante de transição para valorizar o show drive-in, com os músicos ali ao vivo.
Para quem fica irritado com os atrasos de uma hora – às vezes mais – dos shows normais, vai aí mais um ponto positivo. A pontualidade do drive-in é britânica. Atrasar a apresentação em um caso como esses só iria irritar o visitante e fazer com que as buzinas (os aplausos do drive-in) funcionassem com sua função original e tornasse o ambiente totalmente enlouquecedor e desagradável, como qualquer trânsito.
Um ponto positivo para os que chegam a festas e eventos já procurando lugar para sentar: o carro já te dá esse conforto. Claro que seria ótimo poder esticar as pernas de vez em quando, levantar e dançar um pouco. Mas como os shows drive-in não costumam ser longos, o período sentado não chega a incomodar.
Outro fator de destaque no show drive-in vai muito além da música ou do artista que se apresenta no palco. Casas de shows e estádios proíbem que você entre com bebidas e alimentos. E os locais colocam o valor que bem entendem nos produtos, fazendo com que a experiência do show sai bem mais cara do que o valor apenas do ingresso.
No show drive-in, você tem a opção de levar o que quiser consumir no carro. E se não quiser levar nada e comprar no local, também tem a possibilidade. No Arena Session, por exemplo, é possível baixar um aplicativo e pedir sua refeição (com direito a opções vegetarianas).
Não sou a favor de generalizar e dizer que “toda a experiência é válida”, mas essa foi uma que decidi ir sem preconceitos e me surpreendi positivamente. Iria de novo. Mas, sem dúvida, não será opção para sempre.
O LADO RUIM (Por Braulio Lorentz)
A única coisa que explica esse formato de shows em carro é o desespero de querer ver música ao vivo de novo, de querer sair de casa. É compreensível ter essa vontade, é claro, e o mais legal da experiência seria ter a possibilidade de ver um show ao vivo com segurança.
Mas do que vale gastar combustível e ingresso (até R$ 550 por carro) se, no fim, você quase não tem a sensação de que está em um show? Buzinar e piscar farol em vez de aplaudir é mais deprimente do que emendar lives numa noite de sábado para fingir que está em um festival. No começo, buzinar é engraçado. Depois, a sensação é horrível.
A experiência de ver música ao vivo no drive-in é uma mistura de trânsito lotado, com show normal e com assistir clipes no YouTube. Dentro do carro, você não tem noção de coletivo. Você não se sente parte de uma plateia. Não há noção de aplauso, de vaia, de qual música as pessoas estão cantando mais. Ou menos. Plateia em carro não é plateia. É estacionamento.
E ainda tem uma spamzada sem fim. Quem não é fã de ações promocionais vai ter dificuldade de fugir delas, porque você está ali dentro, não tem como desviar dos jabás, dos brindes. Está aí uma chance de renovar o estoque de máscaras vagabundas e outras bugigangas.
Mas e o som? A qualidade das caixinhas que ficam do lado do carro é mediana, mas não chega a ser um problema. No Allianz Parque, o som era menos potente e de configuração mais econômica do que nos grandes shows normais que acontecem em estádios.
Se chover, a situação tende a ficar ainda pior: a única opção seria escutar o som no rádio do carro. Aí a dose de desespero tem que ser muito maior. Quem sairia de casa para ouvir um show com as idas e vindas do para-brisa, e ouvindo no rádio?
Comparada à experiência do cine drive-in, a sensação de estranhamento de ver shows em um carro é muito maior. Você não ouve o barulho das outras pessoas e não consegue se mover pela frente do palco durante o show, para tentar ficar em um lugar em que o som está melhor, por exemplo.
A movimentação pela plateia e a interação entre fãs (e dos fãs com o artista) são a essência de um show. Assistindo a filmes, as experiências no carro ou na sala de cinema são quase a mesma. Por isso, vida longa aos cines drive-in. Shows drive-in, não contem comigo.
Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2020/07/16/shows-drive-in-o-lado-bom-e-o-lado-ruim-de-ver-eventos-com-musica-ao-vivo-dentro-do-carro.ghtml
Nenhum comentário