Musicoterapeuta diz que evolução gradativa é “troféu” e alegria de profissionais e famílias
Apesar de não ser tão popular quanto as terapias tradicionais, como a psicologia, terapia ocupacional e a fonoaudiologia, por exemplo, a musicoterapia ou musicalização vem a cada dia ganhando um espaço importante para, somada a outras terapias, ajudar crianças com necessidades especiais em diversas áreas, como na interação social, na comunicação verbal e não verbal, dentre outras.
Em Dourados, um trabalho digno de nota utilizando a musicoterapia é desenvolvido na Associação de Pais e Amigos dos Autistas da Grande Dourados (AAGD). A AAGD desenvolve suas ações em sede própria, visando promover o apoio psicossocial, o bem-estar e melhoria da qualidade de vida das pessoas com autismo e suas famílias. Para isso oferece atendimento em psicoterapia individual ao público alvo mediado por psicólogos na área comportamental, atendimentos as famílias com a equipe técnica (assistente social e psicóloga), bem como os Projetos Complementares, como Equoterapia, Ginástica, Musicalização e Apoio pedagógico.
O Progresso esteve com o músico Elton Bonilha Petelim, um dos professores que atuam na AAGD na atividade complementar de musicoterapia. “Fazemos esse trabalho com amor, porque essas crianças merecem. Elas já passam por tantas dificuldades por conta do espectro. O que podemos fazer é se dedicar com amor a elas para que tenham melhor qualidade de vida e um comportamento muito próximo das crianças típicas”, disse Elton na entrevista. “A nossa realização profissional, como músicos, é ver o desenvolvimento da criança. Quando vemos esse desenvolvimento, essa evolução gradativa, nós ficamos felizes e as famílias também. Essa é a nossa recompensa. Esse é o nosso troféu”, afirmou o dedicado professor, que detalhou à reportagem como são desenvolvidas as atividades de musicoterapia/musicalização.
“Nós trabalhamos com canto (Música de recepção e despedida, Canções Folclóricas, Cantigas de Roda, Músicas de estimulo motor, pedagógicas e outras músicas do repertório popular), ritmos variados com instrumentos percussão, terapias funcionais ou estruturadas (Desenvolvimento cognitivo), canções para estimular a coordenação motora e consciência corporal, exercícios musicais de identificação de figuras, cores e números (Pareamento e estímulos para a fala), identificação e execução de notas e figuras musicais nos instrumentos melódicos, percepção rítmica, melódica e harmônica, brincadeiras musicais para proporcionar interação social e Prática Instrumental com instrumentos musicalizadores (Violãop, Ukelele, Flauta Doce, Teclado Arranjador, Xilofone e Sanfona de 8 baixos)”, enumerou o músico, detalhando como e em que fase são aplicadas cada técnica.
“Todas essas atividades tem a finalidade de ajudar no desenvolvimento da criança, seja no desenvolvimento cognitivo ou fonético, auxiliar na alfabetização e na coordenação motora”, explicou, ressaltando que a AAGD atende todo o espectro do autismo. “Dentro dessa faixa de crianças nós temos as crianças classificadas como de espectro leves, moderadas e severo. As atividades aplicadas obedecem a esse grau de necessidade”, assinalou.
“Para efeito comparativo, se temos uma criança de três a seis anos de idade as atividades são mais de caráter lúdico. Se a criança não tiver nenhuma limitação intelectual, por exemplo, podemos atuar no pareamento de cores, auxiliar na alfabetização apresentando consoantes e vogais e numerais. Se a criança apresentar alguma limitação intelectual ou comorbidade associada, como comprometimento na fonética, a gente vai ajudar através de canções para ela poder desenvolver a fala e principalmente na questão comportamental”, descreveu Elton, enfatizando que “a questão comportamental é trabalhada em todas as situações, mas nos casos mais severos ela é mais priorizada por conta da necessidade de propiciar que essa criança tenha interação social, compartilhamento de brinquedos e outros comportamentos sociais de uma criança típica”.
“Isso muda se formos atender, por exemplo, uma criança de oito anos, que já é alfabetizada e que não tem comprometimento intelectual. Tem apenas a questão comportamental por conta do espectro do autismo. Nesses casos entramos com algo mais denso. É como alimentar uma criança: se é um bebê basta a papinha. Se é uma criança maior já se oferece alimentação normal. Nesses casos entramos com a musicalização em si, através do ensino das notas musicais, por exemplo”, prosseguiu.
Quando a criança já tem cerca de oito anos o Projeto oferece instrumentos musicalizadores. No caso de Elton, as atividades são feitas com violão, o teclado ou flauta doce. “Aí já é ensinar a tocar mesmo, apesentando musica popular e infantil e também explicando e mostrando o que é clave de sol, clave de fá, mínima, semínima, colcheia e outros pontos que fazem parte da teoria e prática musical ensinada em uma escola formal”, esclarece o músico.
“Quando vemos esse desenvolvimento, a evolução gradativa, nós ficamos felizes e as famílias também. Essa é a nossa recompensa. Esse é o nosso troféu”, afirmou o dedicado professor no final da entrevista.
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