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Música acalma, estimula a memória, alivia dores e ajuda no exercício físico

Ouvir música não é só um entretenimento e uma medida para acalmar e relaxar – ela pode trazer diversos benefícios para a saúde, como alívio de dores, melhora da memória e até mesmo um estímulo para a prática de atividade física.

Além disso, funciona como um “remédio” para vários problemas, como mostraram a pediatra Ana Escobar e a musicoterapeuta Marly Chagas no Bem Estar desta quinta-feira (6).

Isso acontece porque a música ativa o centro de prazer do cérebro, assim como o sexo e o chocolate, por exemplo. Ela libera dopamina e causa uma sensação de bem-estar e, por isso, tem sido usada por médicos, terapeutas e preparados físicos como tratamento de diversos problemas – e tem trazido ótimos resultados.

Em relação à atividade física, a música pode ajudar a embalar o exercício e torná-lo mais fácil e mais prazeroso, como mostrou a reportagem da Marina Araújo.

Segundo o músico e empresário Alexandre Casa Nova, a música é um estímulo importante para quem se exercita porque disfarça a sensação de fadiga, dor e cansaço e, no lugar, traz um sentimento bom de alegria e motivação, deixando a pessoa mais confortável.

O mesmo acontece com a música para dormir ou acordar. Sons mais graves e lentos, por exemplo, ajudam a pessoa a se desligar das preocupações e, comprovadamente, facilitam o sono e combatem a insônia. Por outro lado, sons animados, energéticos e acelerados são bons durante a manhã para despertar e ajudar a acordar.

Essa identificação dos pequenos com a música começa, no entanto, depois da 21ª semana de gestação, isso porque, na 20ª semana, o aparelho auditivo do bebê, apesar de já estar pronto para receber vibrações sonoras, ainda tem o conduto auditivo externo bloqueado por um tecido de células que protege o desenvolvimento do tímpano. A partir da 21ª semana, essa parede se rompe, o tímpano entra em contato com o líquido amniótico e começa a receber e processar vibrações, fazendo com o que o bebê comece a ouvir.

Musicoterapia

O repórter Phelipe Siani mostrou a história do Edson, um garoto que foi diagnosticado com autismo aos 6 anos de idade. O menino tinha dificuldades para falar, mas na frente do videogame, costumava se soltar.

Por isso, os pais recorreram à musicoterapia, um tratamento que começou a deixar o Edson mais calmo, atento e com interesse pelo mundo em sua volta. Com o tempo, os resultados foram ainda melhores: ele começou a interagir com as pessoas, a cumprimentá-las e a procurá-las também – tudo reflexo da música dentro da vida do menino.

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4 Benefícios da música para o desenvolvimento infantil

Saiba como a música ajuda no desenvolvimento e no aprendizado das crianças.

As diferentes formas de arte podem contribuir muito para o desenvolvimento infantil, e a música é certamente uma delas. Você já deve ter percebido como muitos brinquedos educativos emitem sons ou músicas, não é mesmo? Isso porque as atividades que envolvem músicas têm um papel especial no estímulo de áreas específicas do cérebro, como as que beneficiam a cognição e o desenvolvimento de outras habilidades essenciais durante o crescimento das crianças.

Quando os pequenos têm contato com a música, podem desenvolver algumas características com certa facilidade, como a fala, a dicção e a coordenação motora. Ainda, se tocam um instrumento ou passam por algum aprendizado musical antes dos cinco anos, apresentam a área frontal do cérebro, responsável pelo conhecimento lógico e abstrato, mais desenvolvida.

Ativa a memória e o raciocínio

A música também está relacionada ao processo educativo, pois contribui para a ativação da memória e do raciocínio lógico. Ela desenvolve algumas áreas do cérebro de formas que nenhuma outra linguagem é capaz, tornando-as mais poderosas. Além disso, também auxilia no aprendizado matemático e na percepção espacial. Elementos como timbre, tempo e tom são importantes para esse processo, pois para afinar um instrumento, para improvisar e criar, por exemplo, é preciso lembrar o som da nota. Se a criança aprende ou canta uma música, a memória sequencial é exercitada.

Estimula a alfabetização

A música pode ser um estimulante na fase de alfabetização. Afinal, a sequência dos sons produzidos tem relação direta com a linguagem. As canções infantis, por exemplo, ajudam as crianças a entender o significado das palavras, sobretudo as que possuem rimas e frases ou sílabas repetitivas. As crianças armazenam palavras ao ouvirem e cantarem uma música, e a dicção também pode ser aprimorada.

Integra corpo e mente

A linguagem musical permite a integração entre corpo e mente, entre a sensibilidade e a razão, e entre a criatividade e os recursos técnicos, por exemplo. São pontos importantes para o desenvolvimento infantil no que diz respeito a comunicação, consciência e expressão corporal; portanto, a música é também significativa para a vida adulta. A criança cria maior segurança emocional e melhora a socialização, além de o contato com a música possibilitar que ela se expresse por meio do corpo. Pode ser demonstrando o que ela sente ao ouvir o som, cantando ou realizando movimentos.

Melhora a concentração

Outro benefício do contato das crianças com a música é o aumento da capacidade de concentração. Os pequenos ficam sensibilizados com os sons e passam a apreciá-los, potencializando os níveis de concentração. A criança consegue analisar e perceber mais detalhes em diversas situações, além de a concentração ser fundamental para o aprendizado. Se ela for cantar um trecho de uma música ou fazer um solo instrumental, também é necessário estar focada para realizar as tarefas.

O contato com a música é muito positivo desde o começo da infância e pode ser introduzido em casa. Os conhecimentos musicais podem ser ensinados em atividades lúdicas, sem medo do barulho ou de desafinar. Ampliar o repertório de experiências das crianças é uma ótima maneira de exercitar o seu cérebro e, assim, contribuir para o seu desenvolvimento. Só benefícios para os pequenos!

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Alzheimer: Música ameniza sintomas de demência em idosos com a doença

A música tem sido uma ótima estratégia terapêutica para lidar com a difícil tarefa de cuidar de um familiar acometido pelo Alzheimer. Com a evolução da doença neurodegenerativa, as pessoas ficam totalmente dependentes, podem se tornar mais agressivas, agitadas, com déficits de memória e declínio motor e cognitivo. Uma pesquisa da Gerontologia da USP traz alento às pessoas que estão envolvidas com um idoso nessa situação, principalmente se o cuidador principal for o próprio cônjuge. Canções do repertório autobiográfico do casal, que trazem lembranças de fatos e situações vividas juntos, amenizam sintomas relacionados à demência, como a agitação, e possibilitam mais qualidade de vida ao cuidador.

Segundo o autor da pesquisa, o musicoterapeuta e mestre em Gerontologia Mauro Amoroso Pereira Anastácio Júnior, a música exerce enorme influência na vida humana. No caso do idoso, estimula sentimentos, sensações e remete a épocas, pessoas, lugares e experiências vividas, evocando emoções guardadas em sua memória, diz. Com formação musical e trabalhando mais recentemente com pesquisas na área do envelhecimento pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Anastácio uniu as duas áreas e procurou investigar o efeito da musicoterapia nas relações familiares conjugais e de amizade de cuidadores que eram cônjuges de pessoas diagnosticadas com Alzheimer.

Cantando juntos

Ao todo, foram 12 atendimentos semanais direcionados a quatro casais idosos que moravam no município de São Paulo. O pesquisador estabeleceu alguns critérios para a escolha das pessoas: que um dos indivíduos tivesse diagnóstico de Alzheimer em estágio inicial ou moderado e que o cuidador tivesse assumido essa função há mais de seis meses. Por meio de entrevistas, antes e depois das intervenções, Anastácio resgatou as canções mais significativas da história de vida do casal. Uma das atividades levadas à sessão foi a gravação dos dois cantando alguma música do repertório deles e, em seguida, propôs que ouvissem a gravação juntos. Em alguns momentos, Anastácio também recorreu aos instrumentos musicais. O violão favorecia o acompanhamento harmônico das canções, diz.

Nos resultados apurados por Anastácio, embora os cuidadores se sentissem cansados pelas demandas associadas à doença, a musicoterapia trouxe momentos prazerosos ao casal. Amenizou os sintomas comportamentais dos companheiros adoecidos e possibilitou o resgate e a troca de lembranças pessoais, como relata uma das participantes da pesquisa: “A musicoterapia trouxe o prazer de se expressar, sem ser julgada. É uma sensação de tranquilidade e de dar chance de relembrar o que se viveu”.

Com relação ao fato de ter tido que assumir a tarefa de cuidar do companheiro, a experiência com a música trouxe maior percepção de seu papel social e familiar e mais qualidade e bem-estar no relacionamento conjugal, como disse uma das depoentes: “Agente sempre se deu bem e hoje há um sentimento de gratidão por toda a vida que tivemos juntos”.

Demência e Alzheimer

Segundo o pesquisador, a demência é uma síndrome cerebral progressiva que afeta a memória, o pensamento, o comportamento e a emoção. Embora cada processo seja individual, eventualmente os indivíduos com demência tornam-se incapazes de cuidar de si mesmos e necessitam de ajuda para todas as suas atividades, explica Anastácio.

Existem mais de 100 formas de demência, sendo a mais conhecida a doença de Alzheimer. Causa a destruição das células cerebrais, interrompendo a transmissão de mensagens no cérebro, o que afeta a capacidade de se lembrar, falar, pensar e tomar decisões, diz o pesquisador. Ainda não se sabe ao certo o que causa a morte das células nervosas, porém há certos tipos de lesões que podem ser observadas em áreas danificadas do cérebro. Isso confirma o diagnóstico da doença de Alzheimer, explica.

Envelhecimento populacional brasileiro 

A pesquisa apresenta também dados sobre a tendência de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas no Brasil impulsionada pelo envelhecimento da população. Em 1950, a expectativa de vida era de 51 anos; em 2016, passou para 75,8 anos e a previsão para 2040 é de 80 anos, segundo o estudo. Para o pesquisador, “é preciso adotar abordagens terapêuticas para o manejo da doença, uma vez que os medicamentos farmacológicos disponíveis dão conta apenas dos sintomas”, conclui.

A pesquisa de mestrado Musicoterapia e doença de Alzheimer: um estudo com cônjuges cuidadores foi defendida em maio de 2019, sob a orientação da professora Deusivania Vieira da Silva Falcão, do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

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CRIAR MÚSICA, OU SIMPLESMENTE OUVIR, AUMENTA O BEM-ESTAR, MOSTRA PESQUISA

MELHORA NA SAÚDE MENTAL E EMOCIONAL SÃO FATORES OBSERVADOS PELOS AUTORES DO ESTUDO

Segundo um estudo publicado no JAMA (Journal of the American Medical Association), ouvir, criar ou cantar música pode promover melhoras significativas no bem-estar e na qualidade de vida dos indivíduos, regulando emoções e funções cerebrais.

De acordo com os pesquisadores, as intervenções musicais podem ser consideradas “mais atrativas e efetivas” ao levar em conta alternativas não farmacêuticas – porém, mais estudos ainda são necessários. Entretanto, é garantido que o método, por si só ou como terapia complementar, melhora a saúde mental dos adeptos.

No jornal The Guardian, é explicado que o estudo de 26 pesquisas conduzidas em lugares como Austrália, Reino Unido e Estados Unidos descobriu um resultado clínico na promoção de um bem estar mental e emocional.

Sete dessas pesquisas envolvem musicoterapia; dez abordaram os efeitos de ouvir música; oito examinaram os benefícios de cantar e uma tratou sobre as consequências da música gospel dentro deste contexto.

“Muitos de nós sabemos por experiência própria o quão profunda uma intervenção musical pode ser em situações que incluem cirurgia, problemas de saúde ou episódios de saúde mental”, declarou Kim Cunio, professor de musicologia da Universidade Nacional Australiana, ao The Guardian.

Além disso, os autores afirmam que os benefícios da música à mente podem ser comparados aos efeitos de exercícios físicos e perda de peso.

Mas o uso de musicoterapia e arteterapia como intervenções só vem recebendo mais credibilidade e reconhecimento recentemente, após a OMS (Organização Mundial da Saúde) encontrar evidências de que os métodos podem ajudar na prevenção se problemas de saúde e no tratamento dos mesmos.

Outro estudo aponta para a música como tratamento complementar efetivo no combate à depressão e aos sintomas da menopausa em mulheres. – como ondas de calor e dificuldade para dormir.

Agora que você já sabe um pouco mais sobre os benefícios da música, confira outras curiosidades surpreendentes:

Plantas reagem à música

Estudos sugerem que quando plantas são expostas à música, seu crescimento pode ser estimulado. Segundo resultados de pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Agricultura Biotecnológia da Coréia do Sul, ondas sonoras presentes em músicas clássicas causaram reação em dois genes das plantas utilizadas.

Ouvir música pode ter efeitos terapêuticos

Através da musicoterapia, sons podem nos ajudar superar alguma questão, expressar algum sentimento, ou até mesmo nos dar energia, o que acontece porque a música tem efeitos terapêuticos.

A musicoterapia proporciona bem-estar, relaxamento tanto físico quanto mental, liberação de dopamina – hormônio do prazer – resgate de autoestima, melhora na expressão e comunicação, ganho ou melhora de tônus muscular, entre muitas outras coisas.

O show com maior público foi realizado em Copacabana

A apresentação de Rod Stewart no Brasil durante a virada do ano entrou para o Guinness Book como o maior show gratuito da história, contando com mais de 3,5 milhões de pessoas ouvindo o artista em Copacabana, Rio de Janeiro.

Fãs de música clássica e de heavy metal têm personalidades semelhantes.

Estudo realizado na Universidade Heriot Watt, em Edimburgo, na Escócia, analisou a relação entre gostos musicais e a personalidade dos indivíduos. Os resultados sugerem a presença de semelhanças entre fãs de música clássica e admiradores de heavy metal.

Pesquisadores entrevistaram 36 mil pessoas, abordando as características da personalidade de cada um e seus gostos musicais.

A conclusão diz que fãs de jazz tendem a usar mais a criatividade, enquanto o contrário ocorre àqueles que gostam de música pop.

Seguindo essa linha, os estudiosos encontraram pontos em comum entre pessoas que gostam de música clássica e heavy metal.

“São pessoas muito criativas, introvertidas e de bem consigo mesmas, o que é estranho. Como você pode ter dois estilos tão distintos com grupos de fãs tão parecidos?”, afirmou Adrian North, líder do estudo

Ainda segundo ele, uma das explicações para o resultado surpreendente pode ser o “aspecto teatral desses estilos, que são dramáticos”.

“As pessoas em geral têm um estereótipo sobre os fãs de heavy metal, acham que eles têm tendência suicida, são deprimidos e representam um perigo para si e para a sociedade em geral. Na verdade, são pessoas bem delicadas”, disse.

Músicas afetam como você enxerga as situações

Quem nunca sintonizou na playlist de músicas tristes quando não estava se sentindo bem. Ou de canções alegres para limpar a casa ou se arrumar para sair. Isso porque o som que estamos ouvindo afeta diretamente em como vemos o mundo ao nosso redor.

Ao ouvirmos músicas mais melancólicas, podemos nos ver mais chateados e lembrando de situações não tão agradáveis. Enquanto escutar ritmos divertidos e animados faz com que nossa energia fique mais leve.

Você sabe o que é “coceira cognitiva”?

Quando dizemos que não conseguimos tirar uma canção da nossa cabeça, estamos falando sobre “coceira cognitiva”, acontecimento que costumamos atribuir à “músicas chiclete” – incômoda muitos casos.

Segundo estudo realizado por James J. Kellaris, da Universidade de Cincinnati, psicólogo estudioso do comportamento do consumidor, músicas simples, com repetição e que foge às expectativas tem chances de “grudar” em nossa mente.

De acordo com a pesquisa, músicos, mulheres e pessoas que sofrem muito estresse tendem a ser mais suscetíveis à “coceira cognitiva”, com causas psicológicas ou físicas, que podem estar relacionadas às frequências de som que ressoam no corpo.

Kellaris ainda afirma que para sanar o efeito da música chiclete, é necessário cantá-la em voz alta.

Ouvir música estimula praticamente todo o nosso cérebro

Ouvir música é uma das poucas atividades que conseguem estimular praticamente todo o nosso cérebro, provocando um “diálogo” entre as áreas do órgão.

Uma canção faz com que analisemos o som quando a seu tom, ritmo, volume, timbre, harmonia, localização espacial e ressonância. Além disso, as partes de nosso cérebro responsáveis por movimento, memória, atenção e emoção também são ativadas. Isso sem contar a interpretação que o órgão faz da letra.

Só uma em cada 10 mil pessoas tem ouvido absoluto

Ter ouvido absoluto é possuir a conseguir reconhecer e nomear notas musicais sem nenhuma referência anterior, conseguindo afirmar qual a nota tocada no piano sem um elemento de comparação.

Apenas uma em cada 10 mil pessoas nasce com a condição, fazendo dela uma raridade. Suspeita-se que o ouvido absoluto seja hereditário e que estudar música possa desenvolvê-lo.

Confira alguns músicos famosos que tinham ouvido absoluto:

  • Mozart
  • Beethoven
  • Chopin
  • Ella Fitzgerald
  • Stevie Wonder
  • Michael Jackson

A música pode ser utilizada no tratamento para mal de Parkinson e AVC

Segundo estudos, a musicoterapia por tempo prolongado pode ser útil no tratamento para mal de Parkinson e AVC, podendo ainda causar reações surpreendentes em pacientes com Alzheimer.

As sessões que utilizam o método recorrem a exercícios musicais ou rítmicos que ajudam os indivíduos a estabelecerem habilidades funcionais, como pessoas que começam a andar novamente após um trauma junto ao ritmo de uma música ou batida específica.

Além disso, o tratamento para AVC ajuda os pacientes a recuperarem a linguagem, o andar e movimentos físicos.

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O que você imagina quando ouve música depende de sua cultura

Música com fundo cultural

Todos imaginamos – ou visualizamos – as mesmas coisas quando ouvimos música, ou nossas experiências são irremediavelmente subjetivas?

Em outras palavras, será que a música é uma linguagem verdadeiramente universal?

Para investigar essas questões, uma equipe internacional de pesquisadores – incluindo um pianista clássico, um baterista de rock e um baixista – perguntou a centenas de pessoas que histórias elas imaginavam ou que quadros elas visualizavam ao ouvir uma música instrumental que nunca havia ouvido antes.

Os resultados mostraram que os ouvintes em dois estados dos EUA imaginaram cenas muito semelhantes, enquanto os ouvintes de uma província da China imaginaram histórias completamente diferentes – todos os três grupos ouviram as mesmas músicas.

“Estes resultados pintam uma imagem mais complexa do poder da música. A música pode gerar histórias notavelmente semelhantes nas mentes dos ouvintes, mas o grau em que essas narrativas imaginadas são compartilhadas depende do grau em que a cultura é compartilhada entre os ouvintes,” resumiu a professora Elizabeth Margulis, na Universidade de Princeton (EUA).

Imaginação musical

Os 622 voluntários foram selecionados em três regiões em dois continentes: Duas cidades universitárias nos EUA – uma no Arkansas e outra em Michigan – e um grupo de Dimen, uma vila na China rural onde o idioma principal é o Dong, uma língua tonal não relacionada ao mandarim, e onde os moradores têm pouco acesso à mídia ocidental.

Todos os três grupos de ouvintes ouviram os mesmos 32 estímulos musicais: Trechos de 60 segundos de música instrumental, metade de música ocidental e metade de música chinesa, todos sem letra. Após cada trecho musical, eles faziam descrições livres das histórias que imaginaram enquanto ouviam a música.

Os resultados foram impressionantes: Os ouvintes nos dois estados norte-americanos descreveram histórias muito semelhantes, muitas vezes até usando as mesmas palavras, enquanto os ouvintes chinesas imaginaram histórias semelhantes entre si, mas muito diferentes das dos ouvintes norte-americanos.

Por exemplo, uma passagem musical identificada apenas como W9 trouxe à mente dos ouvintes norte-americanos um nascer do sol sobre uma floresta, com animais acordando e pássaros cantando, enquanto os chineses imaginaram um homem soprando uma folha em uma montanha, cantando uma música para sua amada.

Para a passagem musical C16, os ouvintes norte-americanos descreveram um caubói sentado sozinho ao sol do deserto, olhando para uma cidade vazia; Os participantes chineses imaginaram um homem nos tempos antigos contemplando com tristeza a perda de sua amada.

“Você pode pegar duas pessoas aleatórias, que cresceram em um ambiente semelhante, fazer com que elas ouçam uma música que nunca ouviram antes, pedir que imaginem uma narrativa e você encontrará semelhanças. No entanto, se essas duas pessoas não compartilham uma cultura ou localização geográfica, você não verá o mesmo tipo de semelhança na experiência. Então, embora imaginemos que a música possa unir as pessoas, o oposto também pode ser verdade – ela pode distinguir entre grupos de pessoas com origens ou culturas diferentes,” disse Benjamin Kubit, coautor do estudo.

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Música ganha espaço como terapia para crianças com autismo

Musicoterapeuta diz que evolução gradativa é “troféu” e alegria de profissionais e famílias

 

Apesar de não ser tão popular quanto as terapias tradicionais, como a psicologia, terapia ocupacional e a fonoaudiologia, por exemplo, a musicoterapia ou musicalização vem a cada dia ganhando um espaço importante para, somada a outras terapias, ajudar crianças com necessidades especiais em diversas áreas, como na interação social, na comunicação verbal e não verbal, dentre outras.

Em Dourados, um trabalho digno de nota utilizando a musicoterapia é desenvolvido na Associação de Pais e Amigos dos Autistas da Grande Dourados (AAGD). A AAGD desenvolve suas ações em sede própria, visando promover o apoio psicossocial, o bem-estar e melhoria da qualidade de vida das pessoas com autismo e suas famílias. Para isso oferece atendimento em psicoterapia individual ao público alvo mediado por psicólogos na área comportamental, atendimentos as famílias com a equipe técnica (assistente social e psicóloga), bem como os Projetos Complementares, como Equoterapia, Ginástica, Musicalização e Apoio pedagógico.

O Progresso esteve com o músico Elton Bonilha Petelim, um dos professores que atuam na AAGD na atividade complementar de musicoterapia. “Fazemos esse trabalho com amor, porque essas crianças merecem. Elas já passam por tantas dificuldades por conta do espectro. O que podemos fazer é se dedicar com amor a elas para que tenham melhor qualidade de vida e um comportamento muito próximo das crianças típicas”, disse Elton na entrevista. “A nossa realização profissional, como músicos, é ver o desenvolvimento da criança. Quando vemos esse desenvolvimento, essa evolução gradativa, nós ficamos felizes e as famílias também. Essa é a nossa recompensa. Esse é o nosso troféu”, afirmou o dedicado professor, que detalhou à reportagem como são desenvolvidas as atividades de musicoterapia/musicalização.

“Nós trabalhamos com canto (Música de recepção e despedida, Canções Folclóricas, Cantigas de Roda, Músicas de estimulo motor, pedagógicas e outras músicas do repertório popular), ritmos variados com instrumentos percussão, terapias funcionais ou estruturadas (Desenvolvimento cognitivo), canções para estimular a coordenação motora e consciência corporal, exercícios musicais de identificação de figuras, cores e números (Pareamento e estímulos para a fala), identificação e execução de notas e figuras musicais nos instrumentos melódicos, percepção rítmica, melódica e harmônica, brincadeiras musicais para proporcionar interação social e Prática Instrumental com instrumentos musicalizadores (Violãop, Ukelele, Flauta Doce, Teclado Arranjador, Xilofone e Sanfona de 8 baixos)”, enumerou o músico, detalhando como e em que fase são aplicadas cada técnica.

“Todas essas atividades tem a finalidade de ajudar no desenvolvimento da criança, seja no desenvolvimento cognitivo ou fonético, auxiliar na alfabetização e na coordenação motora”, explicou, ressaltando que a AAGD atende todo o espectro do autismo. “Dentro dessa faixa de crianças nós temos as crianças classificadas como de espectro leves, moderadas e severo. As atividades aplicadas obedecem a esse grau de necessidade”, assinalou.

“Para efeito comparativo, se temos uma criança de três a seis anos de idade as atividades são mais de caráter lúdico. Se a criança não tiver nenhuma limitação intelectual, por exemplo, podemos atuar no pareamento de cores, auxiliar na alfabetização apresentando consoantes e vogais e numerais. Se a criança apresentar alguma limitação intelectual ou comorbidade associada, como comprometimento na fonética, a gente vai ajudar através de canções para ela poder desenvolver a fala e principalmente na questão comportamental”, descreveu Elton, enfatizando que “a questão comportamental é trabalhada em todas as situações, mas nos casos mais severos ela é mais priorizada por conta da necessidade de propiciar que essa criança tenha interação social, compartilhamento de brinquedos e outros comportamentos sociais de uma criança típica”.

“Isso muda se formos atender, por exemplo, uma criança de oito anos, que já é alfabetizada e que não tem comprometimento intelectual. Tem apenas a questão comportamental por conta do espectro do autismo. Nesses casos entramos com algo mais denso. É como alimentar uma criança: se é um bebê basta a papinha. Se é uma criança maior já se oferece alimentação normal. Nesses casos entramos com a musicalização em si, através do ensino das notas musicais, por exemplo”, prosseguiu.

Quando a criança já tem cerca de oito anos o Projeto oferece instrumentos musicalizadores. No caso de Elton, as atividades são feitas com violão, o teclado ou flauta doce. “Aí já é ensinar a tocar mesmo, apesentando musica popular e infantil e também explicando e mostrando o que é clave de sol, clave de fá, mínima, semínima, colcheia e outros pontos que fazem parte da teoria e prática musical ensinada em uma escola formal”, esclarece o músico.

“Quando vemos esse desenvolvimento, a evolução gradativa, nós ficamos felizes e as famílias também. Essa é a nossa recompensa. Esse é o nosso troféu”, afirmou o dedicado professor no final da entrevista.

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Choro é o gênero em que a música brasileira encontra seu virtuosismo

Neste sábado 23 é comemorado o Dia Nacional do Choro, gênero que é revolucionário, como fica claro no trabalho do grupo Chorando as Pitangas.

Foi da fusão do lundu, a base de percussão afro-brasileira, com a polca, a valsa e outros gêneros em evidência na época, que o choro floresceu na segunda metade do século XIX – uma associação espetacular que formou não somente um gênero instrumental, mas a própria raiz da música brasileira.

Joaquim Callado (flautista), Patápio Silva (flautista), maestro Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga (piano), Ernesto Nazareth (piano), Pixinguinha – o maior de todos (nasceu em 23 de abril e por isso o Dia do Choro), João Pernambuco (violão), Quincas Laranjeira (violão), Luperce Miranda (bandolim) e João da Baiana, que embora seja identificado como sambista, foi fundamental na introdução do pandeiro nas rodas de música da época.

Esses instrumentistas essenciais presentes pouco antes e pouco depois da virada do século XIX para o XX, e mais uma centena de músicos que os cercavam e eram tão virtuosos quanto os citados, fizeram a combinação que solidificou o choro como uma arte musical tipicamente nossa.

Os chorões, que quando reunidos eram chamados de grupo regional (relação com a música regional), composto por cavaco, violão, pandeiro e mais bandolim, piano e sopros (flauta, saxofone), tocavam em bares, festas populares, aniversários, em teatros e até em baile da elite.

Influência

Eles frequentavam rodas de samba, ainda no embrião, nas casas das tias baianas. Foram depois para o rádio. Eram pessoas do povo, de origem humilde, muitos autodidatas. Não só eram exímios músicos, mas arranjadores e compositores. Improvisaram como ninguém, uma característica em geral dada somente a quem tem talento.

Passaram a acompanhar grandes cantores da época, como Carmem Miranda e Francisco Alves. E isso perdura até hoje. Alguns artistas do primeiro time, não só do samba, mas da MPB, mantêm sua base de músicos com chorões e até mesmo já fizeram trabalhos com um conjunto inteiro.

Músicos de choro são excelentes instrumentistas, leem partituras, têm linguagem musical própria dando um caráter no acompanhamento bastante peculiar.

Esse pessoal influenciou desde sempre a cultura e é responsável pela definição da raiz da música brasileira. Isso não quer dizer que o próprio choro não tenha mudado ao longo do tempo, com grupos experimentando a inserção de novos instrumentos no meio, como acordeon, surdo e violino.

O Chorando as Pitangas, que lançou seu terceiro disco recentemente, chamado Terceira Dose, é uma prova disso. O grupo é composto por Gian Correa (violão de sete cordas), Ildo Silva (cavaquinho), Milton Mori (bandolim), Roberta Valente (pandeiro) e Vitor Lopes (harmônica ou gaita – está aí um instrumento inserido no choro ao longo do tempo, dando-lhe multiplicidade musical em solos plurais).

O disco mostra o caminho renovador do choro, nas composições próprias de integrantes do Chorando as Pitangas e dos participantes, como do violonista Ricardo Hertz e do grupo Barbatuques, que em duas faixas introduzem percussão corporal no choro, como assobios, toques das mãos, palmas, sons com a boca e vocalizes. O álbum ainda tem a participação do guitarrista Chico Pinheiro.

O choro sempre teve linguagem inovadora e virtuosa, como Pixinguinha tão bem propôs há um século.

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Aquela música que não sai da sua cabeça faz bem!

Aquela música que não sai da sua cabeça faz bem!

Sabe aquela música que de vez em quando volta à sua mente… E você não sabe de onde saiu? Quase todo mundo já passou por isso, e as pessoas geralmente se perguntam por que esse som aparece do nada. Alguns chegam a achar irritante! Mas, segundo a ciência, essa é uma ferramenta importante do nosso cérebro.

Pesquisadores da Universidade da Califórnia resolveram investigar o assunto. Pra isso, eles fizeram testes com voluntários, que precisaram assistir a trechos de filmes desconhecidos – ora sem, ora com música de fundo. Para alguns dos participantes, o processo era repetido, e eles ouviam a mesma música várias vezes. Depois, eles precisavam relatar os detalhes que se lembravam do que tinham assistido.

E os resultados foram claros… Quanto mais uma música é “tocada” na cabeça de uma pessoa, mais precisa se torna a memória da música… E mais detalhes a pessoa se lembra da seção específica do filme com a qual a música foi combinada! É isso que explica por que todos nós temos uma canção que representa um momento importante da vida… Toda vez que você a escuta, lembra de detalhes desse período especial.

Segundo os pesquisadores, esse achado é importante porque confirma que a música é um mecanismo que pode ajudar a manter as nossas memórias. Ela ajuda a preservar tanto as experiências recentes quanto a memória de longo prazo, gerando uma espécie de efeito protetor do cérebro.
Fantástico, não é mesmo?

Outros benefícios da música
Se você gosta de música, com certeza seu cérebro e todo o seu corpo podem se beneficiar de inúmeras formas diferentes. E tanto faz se você toca algum instrumento ou simplesmente gosta de ouvir suas canções favoritas. Veja:

1 – Tocar um instrumento é bom para o cérebro
Segundo estudos, ao tocar qualquer instrumento, suas ondas cerebrais se alteram e melhoram sua audição e percepção. Essa é uma boa notícia para quem teve algum dano cerebral, como derrames, ou simplesmente quer deixar a mente mais afiada.

2 – Proteção contra demências
Outra pesquisa demonstrou que pessoas que tocam instrumentos precisam de menos esforço mental de quem não é músico, ainda que seja para realizar a mesma tarefa. Os pesquisadores comentam que esse é um importante fator protetor contra o declínio cognitivo e demências, como o Alzheimer.

3 – Proteção cardiovascular
Testes em pessoas hipertensas mostraram que elas tiveram redução no ritmo cardíaco depois de ouvirem música clássica. Uma boa notícia para quem tem pressão alta!

4 – Proteção contra epilepsia
Você já ouviu falar do “efeito Mozart”? Vários estudos confirmam que pacientes com epilepsia que ouvem as músicas clássicas desse compositor têm menos crises epiléticas e reduzem a frequência da atividade cerebral.

A hipótese é de que as sonatas de Mozart tenham estruturas rítmicas que impactam direto em certos sistemas cerebrais, mas a ciência ainda precisa de mais pesquisas para uma confirmação…
É incrível como nossa mente e nosso corpo respondem à música! Então, fica a dica: faça do som o seu remédio!

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Música tem capacidade única de ativar regiões do cérebro

Poucas emoções são tão fortes quanto ouvir a música preferida tocar aleatoriamente no rádio do carro ou em uma festa. Os pelos do braço instantaneamente ficam arrepiados, os olhos se arregalam e uma série de memórias trazidas por aquela canção surgem na cabeça em uma fração de segundos.

Se para alguns a música muitas vezes parece causar uma explosão de fogos de artifício no cérebro, saibam que cientificamente não estão errados. Foi desta forma que o neurologista e músico Marco Morel descreveu a atividade cerebral ao ouvir o som dos acordes de uma banda reunidos.

“A música é uma atividade, uma disciplina, que ativa todas as funções cerebrais simultaneamente como nenhuma outra. […] Nós brincamos que a música é como se fosse a queima de fogos na praia de Copacabana na virada do ano, é isso que acontece no cérebro. Todas as áreas se comunicam em simultâneo, e dialogam como nenhuma outra atividade.”

Pelo poder da música no cérebro, médicos e pesquisadores de todo o mundo tem usado canções para tratar pessoas com distúrbios como Alzheimer, que leva a perda gradual da memória. Segundo Morel, pacientes em estado avançado da doença mostraram interações surpreendentes ao ouvirem a canção preferida da infância ou até mesmo do casamento.

“Alguns estudos feitos em asilos especializados em pessoas com Alzheimer, no qual estes pacientes não tinham tipos de contato verbal ou aparentemente não tinham mais contato com a vida externa, colocaram para tocar as músicas que eles escutavam na infância, recém-casados ou em outras fases da vida. Esse estímulo fez com que estes pacientes começassem a falar, se lembrar de outras coisas e isso deixou até os cuidadores arrepiados.”

Morel explica que esse tipo de situação acontece porque a música é capaz de ativar memórias e acessar reações de diferentes partes do cérebro, como sensações, cheiros e até gostos, que outras atividades, como a literatura, não conseguem.

“Por exemplo, se você lembrar de algum livro que você leu, do que você comeu ontem ou de algum episódio bom, ou ruim que aconteceu um ano atrás, o cérebro vai ativar o lóbulo temporal, áreas frontais que são mais envolvidas com a memória. Já a música ativa estas áreas e outras envolvidas com emoções que são mais abstratas, mais avançadas e envolvem sentimentos mais refinados, gostos e sensações.”

O neurologista reconhece que alguns estudos preferem usar músicas genéricas para tratar pacientes, como as canções eruditas de Beethoven ou Mozart. Entretanto, Morel defende que cada paciente deve receber um tratamento individualizado com sons que instiguem memórias pessoais e únicas.

“A música é uma máquina do tempo, eu mesmo uso isso com os meus pacientes com demências. […] A neuroplasticidade — capacidade do cérebro de se adaptar a mudanças ou lesões — é um fenômeno que ajuda pacientes a superar traumas, ansiedade e depressão a partir de tratamentos com a música. Não há outro fenômeno hoje conhecido que tenha tanto benefício nessa área quanto a música.”

Pesquisas brasileiras indicam que ouvir música pode ajudar até a controlar a pressão arterial de pessoas no CTI (centro de terapia intensiva), ideal para pacientes que se recuperam de AVCs (acidente vascular cerebral) ou mesmo sofrem com algum tipo de pressão intercraniana.

Além das doenças já citadas, como Alzheimer e depressão, o tratamento com músicas pode ajudar pacientes com insônia, crises de pânico, bipolaridade e até mesmo Parkinson.

“A doença de Parkinson não é apenas tremor, ela também envolve rigidez dos membros e, principalmente, instabilidade postural. O paciente com Parkinson tem problema para andar, a marcha fica mais rígida com passos mais curtos e arrastados, com tendência de queda para os lados e para frente. A música, principalmente rítmica, contribui muito [para a melhora do quadro]. A diferença é gritante. Parece que você colocou um marcapasso nas pernas.”

Ainda segundo o neurologista, aprender a tocar instrumentos musicais desde a infância tem efeito significativo na construção cerebral, além dos impactos significativos observados também em adultos e idosos.

“Os músicos profissionais avaliados em comparação com os músicos amadores tiveram resultados muito acima da média nas funções executivas, como atenção, concentração, capacidade de fazer multitarefas e capacidade de planejamento estratégico a longo prazo”, concluiu Morel.

Carreira

Como artistas se viram para manter o sonho de viver da arte

Depois da crise no setor da cultura provocada pela pandemia e falta de incentivos, a arte nas periferias retoma aos poucos suas atividades

Oderval Júnior leva o projeto Noite de Cinema ao exterior

Desde cedo os moradores de comunidades sentem que terão que se empenhar mais para entrarem no mercado de trabalho e isso acaba incentivando os mesmos a buscarem alternativas para fazer o capital circular na própria vila.

E os números confirmam isso: Com cerca de 1,21 milhão de pessoas desempregadas em Minas Gerais, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), muitos encontram na informalidade um meio de obterem renda para o sustento. Nas favelas e periferias do Estado, essa realidade é mais frequente e comum, por estarem afastados dos grandes centros e pelas diferenças sociais existentes no país.

O pensamento do produtor e gestor cultural Oderval Júnior, de 42 anos, seguiu essa linha. Ele fundou o projeto Noite de Cinema, com o intuito de promover a cultura cinematográfica na região metropolitana da capital. A iniciativa partiu dele, ao observar a carência de produções audiovisuais alternativas nas periferias do Estado.

O início foi em 2012, mas somente a partir de 2019 foi possível obter um retorno financeiro do empreendimento. “É um investimento incerto e duvidoso, mas com muita dedicação e trabalho, hoje chegamos a dez anos de trajetória”, contou Oderval.

Mesmo ainda não sendo possível viver somente das ações coletivas, os planos do gestor cultural não param. Agora com o projeto mais recente, a criação do Cine Teatro Popular, em Ribeirão das Neves, ele pretende buscar parcerias e ser selecionado em editais de incentivo à cultura.

Ele sabe que sempre vai encontrar dificuldades no caminho, mas reforça que para quem trabalha com ações socioculturais não existe a opção de desistir. Não deixe que o sonho fique só na sua cabeça, faça o máximo para realizá-lo. A satisfação da realização de um sonho é inexplicável e única.

Johnny Kiff e os integrantes do clipe da música País Errado
Johnny Kiff e os integrantes do clipe da música País Errado

Foto: Arquivo pessoal

E quando a vontade existe, encontra-se um meio para concretizá-la. Johnny Kiff, de 30 anos, começou a compor com 15 anos. Visando o objetivo de estar próximo das câmeras, o músico cursou comunicação social na UFMG. Após trabalhar dois anos como jornalista em uma TV pública, percebeu que o desejo de empreender tanto no audiovisual quanto na música era maior. Hoje, concilia a música com as câmeras de forma independente e produz artistas e também a própria banda, chamada Revolução.

O produtor audiovisual faz questão de cantar as próprias composições quando se trata de gerar renda, mesmo sem o apoio das mídias tradicionais. Acrescenta que “o próprio contexto do domínio monopolizado das rádios pelos produtores sertanejos é um fator bastante injusto. Todavia a internet está aí para democratizar um pouco as coisas”. Durante a pandemia, a música da banda, chamada Fake News alcançou um milhão de ouvintes no Instagram.

Assim como Oderval, Johnny passa por momentos desafiadores, mas a vontade de superar persiste. “Como músico independente me sinto como um artesão concorrendo contra grandes corporações industriais, e, ao mesmo tempo em que isso é cruel, é também uma grande motivação”, explica o músico.

Cantor e compositor Rafael Ferrazzo
Cantor e compositor Rafael Ferrazzo

Foto: Arquivo pessoal

Gostar do que faz deveria ser fundamental em qualquer profissão, mas nem sempre isso é possível. Rafael Ferrazzo, de 36 anos, consegue ter independência financeira como cantor e compositor sertanejo, mas antes de deixar o emprego fixo, foi preciso fazer um planejamento.

Ele conta que na cidade onde mora, na região metropolitana de Belo Horizonte, falta apoio à cultura, além da queda dos shows e eventos causados pela pandemia. O cantor já está há sete anos no mercado, mas alerta quem quer seguir pelo mesmo caminho: leve a música em paralelo com outro trabalho e estudo.

Locutor e palhaço Alexandre Brasil
Locutor e palhaço Alexandre Brasil

Foto: Arquivo pessoal

Buscar alternativas para encaixar as tarefas que dão prazer às que são necessárias, é uma forma de inserir a produção da arte gradualmente no emprego formal. O locutor Alexandre Brasil, de 38 anos, associou a profissão com algo que gosta.

“Vi alguns palhaços trabalhando na região de Venda Nova e tomei gosto pela coisa. Há 13 anos comecei a trabalhar de palhaço em festas de criança”, relembra a trajetória. Hoje, Alexandre atua como DJ, locutor, palhaço, professor de dança e aluga equipamentos de som e iluminação para complementar o orçamento. Ele fala sobre as mesmas dificuldades que existem no início de qualquer profissão e se alegra em dizer que hoje conseguiu conquistar o público da região de Venda Nova e é querido pela maioria.

Afrofuturista e desenvolvedor de sites Helder Àlagba
Afrofuturista e desenvolvedor de sites Helder Àlagba

Foto: Arquivo pessoal

Antes de perceber a arte como um negócio, é preciso ter ciência de que o projeto ultrapassa o dom artístico. Exige estratégias para transformá-la em uma economia criativa. O escritor afrofuturista e desenvolvedor de sites, Helder Àlagba, de 31 anos, diz que fazer arte é sobre ser honesto com a própria alma.

“Se sua alma é preenchida de arte, não há outro caminho a seguir. É uma ilusão acreditar que eu seria feliz fazendo outra coisa, e acredite, eu tentei”, declara o autor. Helder é um exemplo de quem começou a ter um incentivo comercial somente após muita divulgação própria nas redes sociais, porém, gradual. “O problema da bonificação oriunda das mídias como o Instagram é que elas alimentam apenas o ego, sem qualquer responsabilidade com as contas que nos cercam todo mês”, explica. O autor se afasta da escrita nos momentos em que precisa usar outra habilidade para sobreviver.

Mestre Navalha e o grupo Mandinga de Minas
Mestre Navalha e o grupo Mandinga de Minas

Foto: Arquivo pessoal

Essa realidade é comum aos artistas das favelas. Edimar de Jesus, de 38 anos, conhecido como Mestre Navalha, iniciou as atividades culturais em 1992 e atua como mestre de capoeira há 17 anos. Mas para garantir o sustento, precisa trabalhar também na área da construção civil.

Navalha conta que pratica a capoeira não somente como um meio de trabalho, é também um modo de vida para “desviar das coisas ruins que a periferia oferece”, explica. Ele destaca o fato da capoeira ser julgada como uma cultura malandreada, onde pensavam que ela seria também um meio de viver de modo malandreado.

Porém, o mestre se orgulha em dizer que foi essa arte que proporcionou a ele saúde, educação, motivação e formação profissional. “Como a capoeira tem origem negra, a musicalidade dela se funde com a história do país como forma de protesto pelo nosso passado de escravidão. É também uma valorização do presente e incentivo a um futuro com mais respeito”, reflete.

Bailarino Nilson Silveira
Bailarino Nilson Silveira

Foto: Arquivo pessoal

Os obstáculos e as portas fechadas podem ser aproveitados como incentivo e servirem para fortalecer ainda mais a possibilidade da realização de um sonho. No caso do coreógrafo e maítre de ballet Nilson Silveira, de 58 anos, o objetivo era de ser ator, mas ficou decepcionado com o resultado de uma prova que fez no Palácio das Artes em Belo Horizonte.

A tristeza não o afastou dos palcos, pelo contrário, o coreógrafo continuou frequentando o espaço. Um dia ele assistiu a um ensaio de dança e ali despertou o desejo de estar naquele ambiente artístico e assim iniciou a carreira, há 38 anos.

Nilson sempre teve o respeito e o sucesso desejado e diz que o segredo disso é ouvir o coração: “Em todas as áreas, o mais importante é a sua satisfação e felicidade. Sendo assim, se você olhar dessa forma, o sucesso e a remuneração virão como consequência”.

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